Trabalho que apresentei no Seminário "Os casos clínicos de Freud - O Homem dos lobos" com a Psicanalista Angelina Harari de São Paulo realizado pela Delegação Geral Maranhão da Escola Brasileira de Psicanálise em 13.04.2013
Ao longo da clínica tenho recebido
pacientes com neurose obsessiva que na grande maioria apresenta como sintoma
principal a dúvida intensa que gera angústias dilacerantes. Freud em seus
textos nos diz que uma das características mentais que os neuróticos obsessivos
têm é a de possuir incertezas ou dúvidas em suas vidas.
Segundo Freud no texto Homem dos
ratos, ‘a predileção dos neuróticos obsessivos pela incerteza e pela dúvida
leva-os a orientar seus pensamentos de preferência para aqueles temas perante
os quais toda a humanidade está incerta e nossos conhecimentos e julgamentos
expostos a dúvidas. Levando em consideração o ensino de Lacan, sabemos que a
dúvida é uma articulação de significante, sendo por isto uma defesa. Já a
angústia está situada do lado da certeza, e o próprio Lacan que nos diz que ela
(angústia) é o ‘único sentimento que não engana’ uma vez que ela ocorre sempre
em presença do objeto ‘a’.
Para a psiquiatria, que adota a classificação das doenças dadas
pelo manual médico de estatística e diagnóstico de doenças (classifica a
doenças e não escuta o doente) a obsessão é definida como pensamento, ideia,
impulso ou imagem persistente que causa sofrimento constante e/ou prejuízo
considerável por mais de uma hora por dia. Aqui podemos perceber a visão de
normatização.
Na abordagem da moderna psiquiatria
há uma divergência da abordagem psicanalítica, tanto na etiologia quanto ao
tratamento da neurose obsessiva, mas conhecida com o nome técnico de Transtorno
Obsessivo Compulsivo.
Para a Psicanálise a neurose obsessiva
é originada por um conflito psíquico
infantil e uma fixação na fase anal e suas manifestações se dão por meio de
ritos, sintomas obsedantes e cismas
(ruminações) mentais que originam dúvidas que acabam por inibir pensamentos e
ações. Para Lacan o sintoma neurótico não é um signo, mas sim uma fala.
o sintoma neurótico não é um signo, é
uma fala, estruturada como uma linguagem, com estas duas funções essenciais, o
significante – ou seja, o suporte material, o vocábulo que estou emitindo sob a
forma articulada, silábica pela qual me faço entender – na sua relação com a
significação. LACAN, Jacques – O MITO INDIVIDUAL DO NEURÓTICO – Jorge Zahar Editor
A
Neurose Obsessiva está ligada à forma e ao grau de organização dos mecanismos
de defesa do EU, quanto maiores forem os esforços para se defender de angústias
geradas pelas pulsões. Freud nos diz que a grande finalidade da NO é enfraquecer
experiências infantis em outras ‘menos’ dolorosas.
Zimermam (1999) lembra que embora a
obsessividade possa ser um elemento comum em diversas pessoas diferentes, é indispensável
que se faça uma discriminação entre os seguintes estados: traços obsessivos em
uma pessoa normal, ou como traços acompanhantes de uma neurose mista, uma
psicose, perversão, etc. carácter marcadamente obsessivo; neurose
obsessiva-compulsiva. As duas últimas se diferenciam pelo fato de que uma
caracterologia obsessiva implica a presença permanente e predominante dos
conhecidos traços de meticulosidade, controle, dúvida, intolerância ,etc., sem
que isso altere a harmonia do indivíduo ou que o faça sofrer exageradamente,
embora ele apresente algumas inibições que o desgastam e possam estar
infligindo algum sofrimento ao que convivem mais intimamente. https://artigos.psicologado.com/psicopatologia
Em dois casos clínicos apresentados em
um Seminário, ocorreu que o paciente 1 em seu primeiro processo analítico aparentemente
livrou-se da obsessão, mas ao interromper o processo foi acometido de nova ideia
obsessiva. O pacientes 2, por
estar recente no processo ainda não abandonou sua dúvida trazida para a
análise, mas percebe-se uma diminuição da intensidade.
A obsessão pode ter sido resolvida com êxito em sua primeira aparição;
contudo, retorna de forma distorcida e irreconhecível, sendo então capaz de, na
luta defensiva, afirmar-se com mais eficácia exatamente em virtude da sua
deformação. FREUD, Sigmund – ‘HOMEM DOS RATOS’
– Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud – Vol. X.
Sabe-se através
das leituras dos vários textos de Freud, como por exemplo, ‘As psiconeuroses de
defesa’ – 1894, ‘Obsessões e fobias’ – 1895 ‘Caráter e erotismo anal’ – 1908 e
vários outros, que a organização obsessiva foi marcada pelos complexos de
castração e de Édipo, além da educação dos esfíncteres e de pais que impuseram
um SUPEREU rígido e punitivo.
... um instinto (pulsão) erótico e uma revolta contra ele; um
desejo que ainda não se tornou compulsivo e, lutando contra ele, um medo
compulsivo; um afeto aflitivo e uma impulsão em direção ao desempenho de atos
defensivos. FREUD, Sigmund – ‘HOMEM DOS RATOS’
– Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud – Vol. X.
Em ambos os pacientes encontramos a presença dos elementos descritos
acima. Supereu rígido e punitivo, no caso 1, pai que espancava e no caso 2 mãe
que exigia comportamentos irrepreensíveis. Têm-se também a presença de pulsões
agressivas e um ideal de eu cheio de expectativas a serem cumpridas (a melhor
escola e evitar ser problema).
O contexto ideativo conhecido só entrou
em sua posição real graças a uma falsa conexão. Não estamos acostumados a
sentir fortes afetos, sem que eles tenham conteúdo ideativo; e, portanto, se
falta o conteúdo, apoderamo-nos. Como um substituto, de algum outro conteúdo
que seja, de uma ou de outra forma, apropriado,... FREUD, Sigmund – ‘HOMEM DOS RATOS’
– Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud – Vol. X.
Traço comum também encontrado é o de
serem pessoas muito racionais, isto é, lógicas. São pessoas submersas em dúvidas.
Neles (obsessivos) outra característica apontada por Freud é a presença dos afetos
amor e ódio que ocorrem simultaneamente.
A dúvida corresponde à percepção interna
que tem o paciente de sua própria indecisão, a qual, em consequência da inibição
de seu amor através de seu ódio, dele se apossa diante de qualquer ação intencionada.
A dúvida é na realidade, uma dúvida de seu próprio amor –que devia ser a coisa
mis exata em sua mente como um todo; ela se difunde por tudo o mais, sendo
mormente capaz de ser deslocada para aquilo que é mais insignificante e sem
valor. FREUD, Sigmund – ‘HOMEM DOS RATOS’
– Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud – Vol. X.
Nos casos clínicos é possível
detectar-se problemas de amor e ódio com o genitor masculino no caso 01 e com o
genitor feminino no caso 2. Também podemos perceber que a característica da dúvida
faz parte da vida mental dos neuróticos obsessivos.
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund – DUAS HISTÓRIAS CLÍNICAS (O ‘PEQUENO HANS’ E O ‘HOMEM DOS RATOS’) –
Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud – Vol. X – IMAGO.
LACAN, Jacques – O MITO INDIVIDUAL DO NEURÓTICO – Jorge Zahar Editor – RJ – 2007.
MILLER, Jacques-Alain – EL PARTENAIRE-SÍNTOMA - 1ª ed. - Buenos Aires: Paidós,2008.
NASIO, Juan-David – UM PSICANALISTA NO DIVÃ – R.J. – Zahar / 2003
ZIMERMAN, DAVID E. – FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS - TEORIA, TÉCNICA E CLÍNICA - Artmed Editora – RS, 1999.
___________ – MANUAL DE TÉCNICA
PSICANALÍTICA – Artmed Editora – RS, 2004.
___________ - VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO
DE PSICANALISE – Artmed Editora – RS 2001.
http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/transtorno-obsessivo-compulsivo-visao-psicanalitica