terça-feira, 16 de abril de 2013

A DÚVIDA NA NEUROSE OBSESSIVA



Trabalho que apresentei no Seminário "Os casos clínicos de Freud - O Homem dos lobos" com a Psicanalista Angelina Harari de São Paulo realizado pela Delegação Geral Maranhão da Escola Brasileira de Psicanálise em 13.04.2013



Ao longo da clínica tenho recebido pacientes com neurose obsessiva que na grande maioria apresenta como sintoma principal a dúvida intensa que gera angústias dilacerantes. Freud em seus textos nos diz que uma das características mentais que os neuróticos obsessivos têm é a de possuir incertezas ou dúvidas em suas vidas.

Segundo Freud no texto Homem dos ratos, ‘a predileção dos neuróticos obsessivos pela incerteza e pela dúvida leva-os a orientar seus pensamentos de preferência para aqueles temas perante os quais toda a humanidade está incerta e nossos conhecimentos e julgamentos expostos a dúvidas. Levando em consideração o ensino de Lacan, sabemos que a dúvida é uma articulação de significante, sendo por isto uma defesa. Já a angústia está situada do lado da certeza, e o próprio Lacan que nos diz que ela (angústia) é o ‘único sentimento que não engana’ uma vez que ela ocorre sempre em presença do objeto ‘a’.

              Para a psiquiatria, que adota a classificação das doenças dadas pelo manual médico de estatística e diagnóstico de doenças (classifica a doenças e não escuta o doente) a obsessão é definida como pensamento, ideia, impulso ou imagem persistente que causa sofrimento constante e/ou prejuízo considerável por mais de uma hora por dia. Aqui podemos perceber a visão de normatização.

            Na abordagem da moderna psiquiatria há uma divergência da abordagem psicanalítica, tanto na etiologia quanto ao tratamento da neurose obsessiva, mas conhecida com o nome técnico de Transtorno Obsessivo Compulsivo.

             Para a Psicanálise a neurose obsessiva é  originada por um conflito psíquico infantil e uma fixação na fase anal e suas manifestações se dão por meio de ritos, sintomas obsedantes e  cismas (ruminações) mentais que originam dúvidas que acabam por inibir pensamentos e ações. Para Lacan o sintoma neurótico não é um signo, mas sim uma fala.
    
o sintoma neurótico não é um signo, é uma fala, estruturada como uma linguagem, com estas duas funções essenciais, o significante – ou seja, o suporte material, o vocábulo que estou emitindo sob a forma articulada, silábica pela qual me faço entender – na sua relação com a significação. LACAN, Jacques – O MITO INDIVIDUAL DO NEURÓTICO – Jorge Zahar Editor

            A Neurose Obsessiva está ligada à forma e ao grau de organização dos mecanismos de defesa do EU, quanto maiores forem os esforços para se defender de angústias geradas pelas pulsões. Freud nos diz que a grande finalidade da NO é enfraquecer experiências infantis em outras ‘menos’ dolorosas.

Zimermam (1999) lembra que embora a obsessividade possa ser um elemento comum em diversas pessoas diferentes, é indispensável que se faça uma discriminação entre os seguintes estados: traços obsessivos em uma pessoa normal, ou como traços acompanhantes de uma neurose mista, uma psicose, perversão, etc. carácter marcadamente obsessivo; neurose obsessiva-compulsiva. As duas últimas se diferenciam pelo fato de que uma caracterologia obsessiva implica a presença permanente e predominante dos conhecidos traços de meticulosidade, controle, dúvida, intolerância ,etc., sem que isso altere a harmonia do indivíduo ou que o faça sofrer exageradamente, embora ele apresente algumas inibições que o desgastam e possam estar infligindo algum sofrimento ao que convivem mais intimamente. https://artigos.psicologado.com/psicopatologia


Em dois casos clínicos apresentados em um Seminário, ocorreu que o paciente 1 em seu primeiro processo analítico aparentemente livrou-se da obsessão, mas ao interromper o processo foi acometido de nova ideia obsessiva. O pacientes 2, por estar recente no processo ainda não abandonou sua dúvida trazida para a análise, mas percebe-se uma diminuição da intensidade.

A obsessão pode ter sido resolvida com êxito em sua primeira aparição; contudo, retorna de forma distorcida e irreconhecível, sendo então capaz de, na luta defensiva, afirmar-se com mais eficácia exatamente em virtude da sua deformação. FREUD, Sigmund –  ‘HOMEM DOS RATOS’ – Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. X.

            Sabe-se através das leituras dos vários textos de Freud, como por exemplo, ‘As psiconeuroses de defesa’ – 1894, ‘Obsessões e fobias’ – 1895 ‘Caráter e erotismo anal’ – 1908 e vários outros, que a organização obsessiva foi marcada pelos complexos de castração e de Édipo, além da educação dos esfíncteres e de pais que impuseram um SUPEREU rígido e punitivo.

... um instinto (pulsão) erótico e uma revolta contra ele; um desejo que ainda não se tornou compulsivo e, lutando contra ele, um medo compulsivo; um afeto aflitivo e uma impulsão em direção ao desempenho de atos defensivos.  FREUD, Sigmund –  ‘HOMEM DOS RATOS’ – Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. X.

            Em ambos os pacientes encontramos a presença dos elementos descritos acima. Supereu rígido e punitivo, no caso 1, pai que espancava e no caso 2 mãe que exigia comportamentos irrepreensíveis. Têm-se também a presença de pulsões agressivas e um ideal de eu cheio de expectativas a serem cumpridas (a melhor escola e evitar ser problema).

O contexto ideativo conhecido só entrou em sua posição real graças a uma falsa conexão. Não estamos acostumados a sentir fortes afetos, sem que eles tenham conteúdo ideativo; e, portanto, se falta o conteúdo, apoderamo-nos. Como um substituto, de algum outro conteúdo que seja, de uma ou de outra forma, apropriado,... FREUD, Sigmund –  ‘HOMEM DOS RATOS’ – Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. X.

Traço comum também encontrado é o de serem pessoas muito racionais, isto é, lógicas. São pessoas submersas em dúvidas. Neles (obsessivos) outra característica apontada por Freud é a presença dos afetos amor e ódio que ocorrem simultaneamente.

A dúvida corresponde à percepção interna que tem o paciente de sua própria indecisão, a qual, em consequência da inibição de seu amor através de seu ódio, dele se apossa diante de qualquer ação intencionada. A dúvida é na realidade, uma dúvida de seu próprio amor –que devia ser a coisa mis exata em sua mente como um todo; ela se difunde por tudo o mais, sendo mormente capaz de ser deslocada para aquilo que é mais insignificante e sem valor. FREUD, Sigmund –  ‘HOMEM DOS RATOS’ – Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. X.

Nos casos clínicos é possível detectar-se problemas de amor e ódio com o genitor masculino no caso 01 e com o genitor feminino no caso 2. Também podemos perceber que a característica da dúvida faz parte da vida mental dos neuróticos obsessivos.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund – DUAS HISTÓRIAS CLÍNICAS (O ‘PEQUENO HANS’ E O ‘HOMEM DOS RATOS’) – Versão Eletrônica da Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – Vol. X – IMAGO.
LACAN, Jacques – O MITO INDIVIDUAL DO NEURÓTICO – Jorge Zahar Editor – RJ – 2007.
MILLER, Jacques-Alain – EL PARTENAIRE-SÍNTOMA  - 1ª ed. - Buenos Aires: Paidós,2008.
NASIO, Juan-David – UM PSICANALISTA NO DIVÃ – R.J. – Zahar / 2003
ZIMERMAN, DAVID E. FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOS  - TEORIA, TÉCNICA E CLÍNICA -  Artmed Editora – RS, 1999.
___________ MANUAL DE TÉCNICA PSICANALÍTICA – Artmed Editora – RS, 2004.
___________ - VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANALISE – Artmed Editora – RS 2001.
http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/transtorno-obsessivo-compulsivo-visao-psicanalitica

domingo, 14 de abril de 2013

A CAMISINHA FEMININA

Colaboração com o caderno Na Mira coluna "QUEBRANDO TABU" do jornal O ESTADO DO MARANHÃO no dia 11.04.2013



Temos recebido alguns e-mails com dúvidas sobre o preservativo feminino também conhecido como a ‘camisinha feminina’.

Ainda pouco conhecida e utilizada o preservativo feminino, segundo especialistas, têm vantagens sobre o preservativo masculino conhecido como “camisinha”, ou ainda a “camisa de Vênus”.  Seu formato é o de uma bolsa com dois anéis nas extremidades, um fechado para impedir o contato do esperma com o corpo da mulher (e também agentes que provocam as DSTs) e outro aberto, para que o pênis possa ser introduzido.

O preservativo feminino é um método contraceptivo de barreira, isto é, impede a chegada dos espermatozoides até o óvulo. É feita de poliuretano que é um material mais resistente, mesmo sendo mais fino que o látex usado na camisinha masculina. Este fator a torna mais resistente com o risco menor de rompimento, e ao mesmo tempo com sensibilidade maior e menos causador de alergias.

A camisinha feminina deve ser colocada algumas horas antes da relação sexual, o que impede que o ‘clima seja quebrado’ durante o ato sexual e que muitas vezes se constitui a principal queixa para o uso do preservativo masculino. Ela pode ser usada também durante o período menstrual.

Para maiores informações as mulheres devem procurar um (a) ginecologista.


Ernesto Friederichs Mandelli, Psicanalista com especializações em Sexualidade e Educação Sexual. E-mail: mandelli@elo.com.br - twitter: http://twitter.com/efmandelli