quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O MAL ESTAR ENTRE AS PARCERIAS: “NÃO EXISTE RELAÇÃO SEXUAL” – UMA VISÃO PSICANALÍTICA.

APRESENTAÇÃO ORAL FEITA NO XV CONGRESSO BRASILEIRO DE SEXUALIDADE HUMANA: SEXUALIDADE NOVOS OLHARES E NOVAS PERSPECTIVAS.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DA SEXUALIDADE HUMANA - SBRASH


O MAL ESTAR ENTRE AS PARCERIAS: “NÃO EXISTE RELAÇÃO SEXUAL” – UMA VISÃO PSICANALÍTICA.


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman em vários de seus livros tem demonstrado que na atualidade, as relações humanas estão cada vez mais difíceis, o mesmo acontecendo com as relações entre parceiros amorosos. Quando são abordados os relacionamentos afetivo/sexuais parece paradoxal que, apesar do acesso a muitas informações e receitas de como comportar-se, muitas pessoas encontram dificuldades de desenvolverem uma vida amorosa satisfatória. A clínica psicanalítica, sessão após sessão escuta dizeres que demonstram a relação, muitas vezes com o insuportável deste mal estar. Os parceiros amorosos não se compreendem e nem se escutam. Há um mal entendidos entre os sexos diz Lacan, pois a estruturação da sexualidade masculina difere da estruturação da sexualidade feminina, o que ajuda a levar a psicanálise a realizar uma leitura pessimista e sem remédios da presente realidade quando abordada sob o viés do discurso da ciência.

Como a Psicanálise é a teoria de uma prática, ela rejeita a normalização e sujeição da subjetividade, e por isto fica longe da noção de cura imposta pelo discurso dominante da ciência. Ela busca ajudar na produção do novo e no processo de diferenciação da subjetivação, que sejam capazes de lidar com os conflitos inerentes à vida e às relações amorosas. Em 1970 Jacques Lacan pronunciou pela primeira vez sua famosa afirmação “Il n’ya pas du rapport sexuel’ traduzida por “não existe relação sexual’. A psicanálise de orientação lacaniana, não nega o intercurso sexual entre as pessoas, mas nega que exista uma relação instintiva entre a posição masculina e a posição feminina. Este fato faz com que o mito de Aristófanes no Banquete de Platão, que relata a divisão do ser humano em duas partes iguais e que, desde então, essas partes aspiram incessantemente encontrar sua metade perdida, não expresse a realidade humana. 

A Psicanálise parte do princípio que a vida de cada sujeito é regida pelas pulsões às quais está submetida e as suas formas de satisfação. Sigmund Freud e depois Jacques Lacan, mostraram que por ser o sujeito um ser da linguagem, seus instintos (programas biológicos) foram descaracterizados pela fala à qual é submetido pela cultura e por isto, transformando os relacionamentos afetivos repletos de mal estares.

Para a compreensão desta visão é necessário fazer uma distinção entre instinto e pulsão. Segundo o Dicionário Priberam, o termo instinto tem como definição: "Impulso espontâneo independente de reflexão; aptidão inata; tendência". A definição de pulsão segundo o mesmo dicionário: " é a força no limite do orgânico e do psíquico que impele o indivíduo a cumprir uma ação com o fim de resolver uma tensão vinda do seu próprio organismo por meio de um objeto, e cujo protótipo é a pulsão sexual."

É possível afirmar que o instinto faz parte de uma programação biológica herdade e característica de cada espécie variando pouco de indivíduo para indivíduo e que possui objetivos específicos, como por exemplo, manter a vida do indivíduo (mecanismo de sobrevivência como a fome e a sede), e manter a vida da espécie como o instinto de reprodução e manter a vida da espécie como o instinto de reprodução que só acontece quando a fêmea está no cio. O instinto tem sempre um objeto externo que promove a homeostase do indivíduo. 

O sujeito da psicanálise não está submetido apenas às programações biológicas, mas também pela organização familiar e social nas quais está incluso, por impulsos, o equilíbrio (ou desequilíbrio) entre prazer e agressividade, amor e ódio, os níveis de inveja, ciúmes, egoismo e outros fatores internos. Os representantes psíquicos dos instintos - impulsos, tendências, desejos e fantasias inconscientes e conscientes – não sofrem programação pela natureza, mas sim pela cultura e se encontram afetiva e efetivamente ligados entre si. Como diz J.A. Miller "Na espécie humana não existe instinto nem convergência entre desejo, gozo e amor que conduza ao parceiro apropriado". Os conceitos de pulsão e de libido trazem importante compreensão do amor para os estudiosos da psicanálise.

A pulsão é uma ordem dinâmica que se expressa numa força motriz que leva o organismo a tender para um alvo, ou como Freud define um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo - dentro do organismo - e alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.”. Freud afirma que as pulsões são o fundamento de  toda a atividade, dando ênfase ao sentido de princípio geral do vivo, impulso genérico, indeterminado e impessoal.  A pulsão é uma força constante que se manifesta através dos afetos, das imagens e, sobretudo através da linguagem, pois segundo Lacan as pulsões se estruturam em termos de linguagem. O destino de uma pulsão está associado à busca da satisfação que se caracteriza como um gozo.

Outro conceito fundamental e que está imbricado com os conceitos anteriores é o de libido. “Libido é expressão extraída da teoria das pulsões. Damos esse nome à energia, considerada como uma magnitude quantitativa (embora na realidade não seja presentemente mensurável), daqueles instintos que têm a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra ‘amor’. O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente (e é isso que comumente é chamado de amor e que os poetas cantam) no amor sexual, com a união sexual como objetivo”, Freud em Psicologia das massas e análise do Eu (1921).

As fantasias inconscientes e conscientes que estruturam a vida psíquica do sujeito são determinantes para dar sentido aos seus desejos e pela busca dos objetos externos, entre eles os parceiros afetivos. O psicanalista Marco Antônio Coutinho Jorge, afirma que a fantasia é definida como resultante da articulação entre o inconsciente e a pulsão. A fantasia, no entanto, pode ter destinos diferentes: pode servir para promover a nossa homeostase psíquica e, também, levar à criação artística e à grandes inventos, mas pode, ao contrário promover sofrimento psíquico e mesmo prejuízos à sociabilidade humana quando serve à fabricação de graves sintomas. 

Lacan fez uma diferenciação fundamental para a compreensão do sujeito ao estabelecer os conceitos de gozo e prazer, pois mesmo sendo formas de expressão de energia psíquica possuem funções diferenciadas, enquanto o prazer baixa as tensões psíquicas ao menor nível possível e com isto iniciando um busca, o gozo produz o aumento das tensões provocando uma busca de satisfação destas através da repetição da descarga explosiva.

Para buscar entender as relações humanas é preciso recorrer a dois outros conceitos lacanianos, o grande Outro e o pequeno outro. O grande Outro é da ordem do simbólico (que apazígua a tensão agressiva entre os sujeitos) e pode ser equiparado a linguagem, a cultura e a lei. O pequeno outro é da ordem do imaginário e é um reflexo e uma projeção do próprio sujeito, se este outro se for ‘igual’ se torna objeto amado, se for ‘diferente’ se torna odiado. Na ordem do imaginário as relações são simétricas e sempre está presente uma tensão agressiva. Na ordem simbólica todo o significante necessita de outro para se tornar significado e por isto, um dos sujeitos da parceria busca ser o que o outro sujeito quer ele seja estabelecendo uma relação assimétrica, o que determina a existência de um pedido de amor através da palavra.

A Terceira ordem é do real que é o estatuto do gozo. No seu seminário de 1998 o psicanalista Jacques Alain Miller propôs a fórmula do parceiro-sintoma. Esta abordagem designa o real como um impossível de ser suportado, O real pode se manifestar através dos pensamentos nos sujeitos obsessivos, através do corpo nas histéricas e também por um parceiro da vida amorosa ou familiar. Nesta perspectiva, o parceiro-sintoma pode designar uma mulher para um homem, assim como um homem para uma mulher, ou mesmo um homem para outro homem ou uma mulher para outra mulher.

A Psicanálise não aborda o sintoma como uma simples disfunção que é preciso curar, pois o sintoma contém o traço mais singular do sujeito e que o diferencia de todos os demais sujeitos. Seus sintoma é sua singularidade, ele é uma solução que, para cada sujeito, supre a relação sexual que não há, por uma formação de gozo originada de seu inconsciente.

O que a Psicanálise, que é oposição à normalização e à submissão da subjetividade presentes no discurso da ciência, propõe para lidar com os conflitos de forças insuperáveis e inerentes à vida? Estando a Psicanálise longe de um ideal de cura, sua prática está implicada na constituição de formas de subjetividade ou modos de existência que sejam capazes de lidar com os conflitos através do vir a ser das subjetividades, produzindo o novo e a diferença em cada sujeito, para que este possa encontrar soluções próprias para seus conflitos.

Partindo-se, portanto, do título que contempla esta breve reflexão, permitimo-nos reforçar o dito de Lacan de que “Não há relação sexual” evidenciando-se que, como a relação sexual entre humanos é cheia de outros significados secundados pelas fantasias e, portanto, obedecendo a uma absoluta singularidade de cada sujeito, sendo isto que produz o mal estar entre as parcerias, a relação sexual é muito maior do que a mera genitalidade.  

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

IMPULSO OU COMPULSÃO?



A Psicanálise permite delinear a diferença entre impulso e compulsão. O impulso é da ordem do princípio do prazer, isto é, a busca da satisfação de um desejo que representa a busca de algo (objeto a) para preencher uma falta. O desejo para a Psicanálise está mais para o enfoque de aspiração. Segundo Lacan o desejo é metonímico, e seu movimento tende para o infinito e por isto, está ligado ao movimento do sujeito durante a sua vida. O desejo está representando a busca por outra coisa, e com isto a tensão sobre o aparelho psíquico se reduz. A ausência de desejo acarreta a depressão.

A compulsão está ligado ao conceito de gozo, que é um imperativo para preencher um vazio (que nunca será preenchido). A pulsão que é o instinto desvirtuado pela linguagem, se constitui no motor de busca da satisfação. A pulsão se manifesta pelos afetos, pelas imagens e principalmente pela linguagem. Segundo Freud temos dois tipos de pulsões, as pulsões de vida (Eros) e as pulsões de morte (tânatos). A satisfação da pulsão de morte é denominada de gozo. O gozo leva ao aumento da tensão sobre o aparelho psíquico acarretando uma descarga explosiva. O gozo está representado pela compulsão a repetição, isto é, busca mais da mesma coisa (adicção).





segunda-feira, 6 de julho de 2015

SENSAÇÃO DO TEMPO PASSAR RÁPIDO


      Muitos usam as palavras ansiedade e angústia como sinônimos. Porém não são. Na psicanálise quando se fala em ansiedade, geralmente refere-se a sensação de medo, enquanto que angústia refere-se a sensação de opressão, ou mesmo de desestruturação. Freud em 1926 publica um texto clássico da Psicanálise, "Inibição,Sintoma e Angústia". O Psicanalista Jaques Lacan, vai mais profundo no assunto e deixa vários legados teóricos em relação a este assunto.







quinta-feira, 14 de maio de 2015

VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE


Cada vez os atos de violência estão presentes no dia das pessoas. Seja nos noticiários, nos jornais ou ao vivo, todos somos afetados. Quais as causas? Como lidar com a sensação de insegurança? São questões que demandam profundas reflexões e que podem até não ter respostas. Na entrevista concedida à jornalista Elda Borges e sob enfoque psicanalítico abordo alguns pontos.