Colaboração com o caderno NA MIRA coluna "QUEBRANDO TABU" do jornal O ESTADO DO MARANHÃO no dia 08.02.2013
Trataremos nesta edição
sobre uma pergunta que me foi feita muitas vezes durante os seminários e
palestras que ministro como psicanalista – Por que alguém é homossexual?
Esta é uma pergunta muito
difícil de responder por várias razões, entre elas é que existem várias teorias
e que nenhuma delas foi comprovada como verdade científica.
A psicanálise é conhecida por ser a teoria de
uma prática, isto é, das observações feitas no dia a dia dos consultórios. Portanto
por ser estudioso dos seres humanos vou expor de forma muito breve algumas das
minhas observações
Existem algumas abordagens
teóricas que podem ser feitas, mas escolhi, por questão de espaço, apenas uma,
a diferença entre instinto e pulsão. O Instinto é uma
programação da natureza e existem dois tipos. O instinto de sobrevivência
e o instinto
de reprodução. Eles estão
presentes nos animais. Na natureza não
encontraremos, por exemplo, animais obesos, pois eles comem apenas para
sobreviver e não por prazer. Em relação ao ato sexual, ele acontece (com
raríssimas exceções) apenas quando a fêmea está no cio, pois visa à reprodução
e com isto a perpetuação da espécie.
Nos seres humanos não
temos os instintos, mas sim as pulsões (conceito físico, psicológico e social),
pois os instintos são modificados pela cultura, nós fazemos sexo muito mais
para ‘recreação’ do que para procriação. Isto faz nossos desejos sexuais se
dirigirem para outros seres humanos, de acordo com ‘programações’ internas,
representadas por crenças, valores e fantasias que vamos acrescentando
principalmente nos primeiros anos de nossas vidas. Portanto não é apenas uma “programação
biológica” que dirige os desejos nos relacionamentos.
De onde vêm nossos
desejos? Eles se originam a partir das necessidades que o bebê
humano tem ao nascer, como alimento, abrigo, segurança, acolhimento, etc., e
como tais necessidades são providas por terceiros e sendo elas constituídas
através da linguagem (ensinam a dar nomes aos objetos e as pessoas), estes
terceiros passam a serem objetos de demandas.
Quando comparamos demandas
e necessidades, vamos perceber que as segundas não satisfazem completamente as
primeiras e o que resulta (resta) é o que chamamos de desejos. Estes
desejos são responsáveis por todos os nossos movimentos de busca, inclusive de
parceiros afetivos.
Podemos concluir baseado na
teoria psicanalítica pensada por Jacques Lacan, partindo de Sigmund Freud, que
ser heterossexual ou homossexual, é uma questão de orientação estruturada mesmo
antes do nascimento do bebê, e não é uma opção, como muitas vezes se diz.
Para
encerrar a nossa reflexão, deixo aqui duas frases que exprimem a importância
dos desejos na vida do indivíduo: “Os desejos inconscientes do homem são o
seu destino” e “O desejo é a essência da realidade”,
de Sigmund Freud e Jacques Lacan respectivamente.
Ernesto Friederichs Mandelli, Psicanalista com especializações em
Sexualidade e Educação Sexual. E-mail:mandelli@elo.com.br - twitter: http://twitter.com/efmandelli