quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

INTERAÇÕES FAMILARES E CONFLITOS


Sempre foi uma ideia que a família era a célula base que organizava a sociedade. Ainda hoje sabe-se que é a partir da família (hoje com configurações diferentes) que se estrutura todas as relações que ocorrem entre as pessoas. No famoso  texto de Jacques Lacan "Os complexos familiares na formação do indivíduo" é possível ter-se a ideia da matriz formadora da estruturação emocional do sujeito e seus laços sociais. 

Outros dois Psicanalistas famosos Melanie Klein e Donald Winnicott também  se ocuparam desses primeiros tempos de formação do sujeito e das suas interações com o mundo e as pessoas.



 


segunda-feira, 29 de junho de 2020

FOBIA (NEUROSE FÓBICA) NA PSICANÁLISE

É cada dia mais comum encontrar pessoas que não entram em elevadores(claustrofobia), que não viajam de avião (aerofobia) e se o fazem, precisam usar remédios, tem medo de lugares altos (acrofobia), escuro (nictofobia), animais (zoofobia), falar em público (glossofobia), e inúmeras outras.

O estado de fobia é um estado de pavor irracional que o sujeito sente ao deparar-se com o objeto fóbico que pode ser um ser vivo, uma situação e um objeto. As sensação que se se fazem presentes são: taquicardia, sudorese, ansiedade,boca seca,sentimento de incapacidade, tremores, dificuldade para respirar, ataque de pânico,imobilidade, etc..

Existe algo importante a ser colocado. Não se deve confundir fobia com medo.O MEDO é um dos afetos que o sujeito necessita para sua sobrevivência, e que é chamado de "afeto da prudência". Caso sofra de uma fobia, procure um(a) psicanalista para esclarecer qual é a forma adequada para tratá-la.




segunda-feira, 25 de maio de 2020

VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR


        Violência segundo o dicionário é um substantivo feminino que significa a qualidade do que é violento, é também, o efeito ou a ação de empregar a força física ou intimidação moral contra alguma pessoa, objeto ou animal. Sabe-se que a violência dentro do âmbito familiar pode se dar através da força física, abuso sexual, abuso emocional, negligencia, abandono e maus-tratos.

        A violência que ocorre no âmbito familiar, é chamada de INTRAFAMILIAR, é corresponde à toda ação ou omissão que ameace a integridade física, emocional, a liberdade e o o desenvolvimento de membro da família. Este conceito não está somente ligado ao espaço físico nem aos laços de consanguinidade entre as pessoas, mas também em qualquer outro lugar que possa acontecer.





domingo, 29 de março de 2020

"REMÉDIO NÃO CURA PENSAMENTO"


Pensei em ler a biografia de Freud com 815 páginas neste período de quarentena, mas ontem fui até o consultório e encontrei o livro que havia comprado há algumas semanas. Movido pela curiosidade, comecei a folhear e a medida que lia fui ficando "preso". Esta postagem é composta de pedaços do texto escrito pela Psicanalista e Psiquiatra Dra. Silvia Disitzer com o mesmo titulo desta postagem.



Silvia Disitzer, Psicanalista membro da Escola Letra Freudiana e médica psiquiatra no Instituto Municipal  Philippe Pinel.



"A tarefa clínica nos coloca em contato com o relato do sujeito e seu sofrimento. Desde o início de minha prática clínica, nos ambulatórios da faculdade de medicina, chamava a atenção o fato de que, mesmo frente à inexperiência de estudante, os pacientes retornavam e retomavam do mesmo ponto as questões que haviam relatado da última vez. E também a constatação de que uma escuta atenciosa favorece a melhora clínica, o tratamento e a cura."

"É assim que venho consolidando uma forte impressão, de que remédio não trata pensamento, ideia que insistiu e me instigou a uma reflexão mais aprofundada. A diferença entre a prática psiquiátrica e a clínica psicanalítica é abismal, sendo quase sempre incompatível exercê-las ao mesmo tempo no mesmo caso. E isso vale tanto nos casos de neurose como nos de psicose."

"A palavra do paciente, obstáculo maior para a objetivação do ‘transtorno psiquiátrico’, fica eliminada da série com o advento do terceiro DSM, de 1980, com a declaração triunfal de que já não existem as neuroses. Assim vai se construindo uma base de categorização em que a psicodinâmica vai sendo abandonada em favor do modelo biomédico. É dessa forma que fica substituída definitivamente a noção de neurose por “transtorno de ansiedade”."

"A tarefa clínica nos coloca em contato profundo com o sofrimento do sujeito. Desde o início da minha formação, ainda nos ambulatórios da faculdade de Medicina, me chamava a atenção um fato recorrente: aquilo que era enunciado pelo paciente sobre a sua situação e os seus sintomas tinha mais efeito sobre a evolução de seu quadro do que a informação que recebíamos dos resultados dos exames ou dos procedimentos realizados.Tornou-se evidente que uma escuta atenciosa é fundamental para a melhora clínica, o que me levou posteriormente à psiquiatria e à psicanálise, não necessariamente nesta ordem."

"Com os anos, fui percebendo que a diferença entre a prática psiquiátrica e a clínica psicanalítica é abismal. O psiquiatra identifica a doença de seu paciente e acredita saber qual o remédio certo para tratá-la. Já o psicanalista, ao escutar o sujeito,opera sobre matéria bem mais sutil, a cadeia de seus pensamentos, e se coloca a tecer os fios que possam levar seu paciente a tomar as rédeas de sua própria vida."

"Seja pela pressão da indústria farmacêutica, seja pela necessidade de criar indivíduos funcionamentes, o fato é que a sociedade contemporânea recorre cada vez mais a remédios numa busca rápida e, por vezes, fantasiosa de uma "cura" para a mente. É inquestionável que algumas substancias psicoativas têm eficácias específicas comprovadas. Os neurolépticos, por exemplo, agem sobre desordem psicótica aguda e, os antidepressivos, melhoram o ânimo e combatem a irritabilidade."

"No que diz respeito ao uso dos medicamentos, tenho verificado a enorme variação de ocorrências, seja em relação aos efeitos esperados ou desejados como também em relação aos efeitos colaterais e ainda alguns inesperados.É preciso mencionar também o enorme efeito de sugestão que percebemos ao prescrever uma medicação, especialmente se essa prescrição está acompanhada de uma escuta analítica. Esse efeito é eventual,ente mas evidente do que o efeito esperado do medicamento, exercendo considerável influência sobre o resultado clínico final."

sexta-feira, 27 de março de 2020

A FALTA DA VERGONHA E DA RESPONSABILIDADE



Nesta época de quarentena, além de atender meus pacientes via WhatsApp vídeo, leio as postagens dos vários colegas e fico questionando sobre suas análises pessoais, tal é o nível de agressividade ao expressarem-se e a identificação excessiva ao Ideal de Eu. Nestas leituras encontrei uma postagem do colega italiano Marco Focchi que permite uma profunda reflexão sobre os tempos que vivemos (mesmo antes do corona vírus) aqui no Brasil.

Colaboração de Marco Focchi

"No seminário XVII, Lacan se refere à sociedade de hoje como aquela que perdeu o senso de vergonha. Então, qual era a sociedade da vergonha antes de perder o sentido? Quais são as condições prévias para uma sociedade apoiar a função da vergonha? E acima de tudo: de onde vem o sentimento de vergonha? Vamos começar com esta última pergunta, para a qual a tradição nos dá uma resposta. Em Protágora, Platão fala do mito da criação dos mortais: os deuses produzem uma amálgama de terra e fogo da qual todos os seres vivos se originam e confiam a tarefa de distribuir as faculdades a Prometeu e Epimeteu. Epimeteu pede para poder cuidar disso e, assim, começa a atribuir a faculdade natural, tentando estabelecer um certo equilíbrio. Alguns seres dão garras para atacar, outras armaduras se defenderem, outras ainda a velocidade de escapar dos assaltos ou a capacidade de se multiplicar inúmeras vezes, de modo que as espécies possam continuar mesmo que muitas sucumbam aos predadores. Chegando ao homem Epimeteu terminou as faculdades, e Prometeu deve remediar, como sabemos, roubando o fogo no céu, para que o homem, que não tem garras, não tenha armadura, seja lento, mas tenha o motivo. a técnica, que supera todas as faculdades naturais. Os homens, no entanto, apesar do poder da técnica, podem obter comida, mas não podem se defender dos animais. Então eles têm que se reunir nas cidades para se salvar. Acontece, porém, que toda vez que estão juntos, ainda sem conhecer a política, os homens usam sua força um contra o outro para lutar um contra o outro. Zeus deve então intervir,Aidos e Dike , isto é, vergonha e justiça, porque são a base da ordem das cidades e dos laços de amizade. Então Hermes pergunta: "Eu tenho que distribuí-los da mesma maneira que as outras artes foram designadas, para alguns remédios, para outros a engenharia, para outros ainda diferentes habilidades artesanais?" "Não - responde Zeus - estes devem ser distribuídos a todos, e todos devem estar envolvidos nele, e estabelecer uma lei pela qual aqueles que não participam serão mortos, porque sem essas virtudes não haverá cidade".

A vergonha, juntamente com a Justiça, é uma das duas colunas sem as quais a comunidade humana não se sustenta. O aviso de Lacan, que nos adverte sobre como entramos em uma era em que o sentimento de vergonha se perde, não deve, portanto, ser subestimado, porque é o diagnóstico de uma sociedade à beira da desintegração.

A resposta para a primeira pergunta, portanto ("Qual era a sociedade da vergonha?") Essa vergonha é uma condição de qualquer vínculo da comunidade, porque há algo que deve permanecer oculto no coração de toda existência e que não pode aparecer sem ter efeitos de destruição. Acho que não precisamos de mais provas desse fato depois dos inúmeros suicídios, devido à impossibilidade de suportar o sentimento de vergonha nascido da ostentação, no pelourinho da mídia social, de comportamentos filmados em momentos roubados, que violavam a intimidade e provocavam uma onda de escárnio insustentável da mídia para o sujeito visado. Os suicídios de Carolina Picchio e Tiziana Cantone são dois dos exemplos mais eloquentes. Falei extensivamente sobre suas histórias em outro texto:  Cyberbullying e seus poços de ódio.

Esses episódios são exemplos de uma situação em que o sentimento de vergonha se mantém em alguns indivíduos, diante de uma multidão que o perdeu. Então, vejamos a sabedoria da resposta que Platão coloca na boca de Zeus em Protágora: se a vergonha não é igualmente distribuída entre os homens, é criado um desequilíbrio onde aqueles que não têm vergonha podem esmagar aqueles que, em vez disso, mantiveram um senso de modéstia. O que mais podemos dizer sobre os perseguidores anônimos, que sem o menor constrangimento e mantendo o anonimato atrás do teclado, cobrem insultos com pessoas que eles nem sequer conhecem. Observamos aqui, é claro, que a ausência de vergonha está essencialmente ligada à possibilidade de anonimato, o que nos permite escapar do olhar coletivo. Vimos casos em que pessoas que, por exemplo, tendo lançado insultos excruciantes contra figuras públicas, uma vez trazidos à tona, eles se sentiram compelidos a mergulhar em desculpas, sucumbindo precisamente ao sentimento de vergonha. O anonimato imuniza, torna insensível à vergonha. Uma sociedade que perdeu o senso de vergonha, para adotar o tema de Lacan, é uma sociedade que desliza em direção ao anonimato, em direção a um conformismo homogeneizador, em direção à imitação em massa.

Chegamos então à segunda pergunta: quais são as condições prévias para uma sociedade se sustentar no sentimento de vergonha? É mais fácil vê-lo se considerarmos a questão do lado oposto, do lado da honra, um sentimento que hoje é um tanto obsoleto, mas que Jacques-Alain Miller lida extensivamente em sua  Nota sobre o l'honte , presente em 2001-2002  Le dèsenchentement de la psychanalyse,  onde ele retoma e comenta as declarações de Lacan. 

Miller refere-se ao senso de honra como aquele sentimento sem o qual a vida não tem mais valor. A honra, como sabemos, é em particular um valor na vida militar. A história de Joseph Conrad Os duelistas são memoráveis  , onde Armand D'Hubert e Gabriel Féraud, dois oficiais da mesma patente na era napoleônica, se perseguem em um duelo sem fim, que não pode ser evitado sem perder a honra. Vida e honra andam juntas: somente quando você tem a vida do outro em suas mãos e a entrega a ele, você pode sair do desafio mantendo a honra. 

Hoje, a honra é um valor menos enfatizado em nossas sociedades. Pelo contrário, pertence às comunidades aristocráticas, que são numericamente comunidades muito pequenas, que nada têm a ver com as sociedades de massa atuais. Ir "na sociedade" significava ir para um  certo tipo da sociedade. Era considerada uma sociedade de um pequeno número de pessoas, onde todos conheciam todos, pessoalmente ou como nome de família, e precisamente por esse motivo não era possível transgredir certas regras não escritas, porque todos sabiam disso, porque isso estava sob seus olhos. de tudo. Isso era verdade, é claro, tanto para a honra em sua declinação masculina quanto feminina. Quem poderia ter se casado na época, mesmo que ele quisesse, uma garota que todo mundo conhecia desonrada?

Portanto, a honra acompanha a visibilidade, o controle mútuo, as restrições e as regras da vida que delimitam e determinam as possibilidades de comportamento dos indivíduos.

Claramente em nossas sociedades contemporâneas, onde a  privacidade tornou-se um grande problema político e, após o escândalo da  Cambridge Analityca  , entendemos bem quais sérias implicações podem existir para a violação da privacidade. As nossas não são mais sociedades onde o comportamento de todos existe para que todos possam ver. É por isso que o individualismo se une a uma maior liberdade, mas a liberdade corre o risco de se tornar sem vergonha, e fazer do individualismo o cavalo de Troia da desintegração progressiva, da indiferença em relação ao outro, do desinteresse em do vizinho, daquele que mora em nosso próprio condomínio, mas com quem não temos relacionamento, porque todos os laços da comunidade foram perdidos.

Também estamos testemunhando movimentos de reação a essa deriva, uma reação que utiliza o digital para neutralizar a dissociação individualista que o digital provavelmente acentua. Existem, por exemplo, comunidades de bairros, que, ao colocar em contato os habitantes da mesma área, tentam reiniciar uma socialidade que pode ser transferida do virtual para o factual. 

Certamente, porém, o véu do segredo hoje não recai sobre o íntimo que pode ser violado pelo olhar do outro. A perspectiva é diferente.  Na sociedade da pornografia generalizada, fica claro que o senso de modéstia sofre mudanças quando comparado ao vislumbrar o tornozelo de uma mulher causou arrepios eróticos irreprimíveis nos homens. Hoje, o véu do segredo deve estar em nossos dados sensíveis, aqueles que permitem nossa manipulação, abuso financeiro, condicionamento de opiniões, sequestro eleitoral, exploração de dados de saúde pelas companhias de seguros. Essa é tipicamente a  privacidade  que a lei protege. 

No entanto, a dignidade não sofreu a mesma ocultação do conceito de honra, tão ligada a formas de vida e nobreza de armas que não se refletem no mundo atual. Dignidade é algo que ainda pode ser violado. A pobreza, por exemplo, para muitos pode ser vivida com vergonha e não com dignidade, porque os valores transmitidos apontam para o sucesso, para um sucesso social medido pelo dinheiro. Se a honra é a medida de vergonha no discurso do mestre, onde a honra pode ser perdida ao falhar em um S1, uma dignidade ideal é a que você pode sentir desprezado quando não tem os meios isto é, não quando alguém é inadequado a um ideal, mas com relação à possibilidade de suprir a si próprio o conjunto de objetos dos quais o consumismo faz suas próprias insígnias. 

Acho extremamente eloquente que algumas marcas de tênis produzam modelos de edição limitada para os quais grupos de crianças acampam em frente às lojas na noite anterior ao lançamento. Depois de muito pouco tempo, ficamos surpresos com o fato de esses modelos de sapatos serem revendidos na Internet com números astronômicos para um sapato e, ainda assim, encontrar compradores.

A dignidade transmitida pelo logotipo, pela marca e não pelo ideal, implica uma relação diferente com a vergonha despertada por não ter, isto é, uma relação com os bens e não com um sistema de valores. 

Na Idade Média, em uma era de sociedades pobres em comparação com as atuais, ninguém teria vergonha de sua pobreza, de não ter o mesmo espartilho que o senhor do castelo, porque havia dignidade na pobreza, condição de nascimento , não uma prova da negligência do próprio ser. Obviamente, como Max Weber apontou claramente, com a ética protestante, onde o sucesso nos negócios se torna prova de salvação após a morte, as coisas mudam de perspectiva e começa a marcha que leva ao consumismo contemporâneo. 

Talvez possamos ver no mundo contemporâneo uma dissolução da liberação de responsabilidades, que já está começando a ser vislumbrada na ética protestante. Na ética protestante, é Deus quem escolheu os salvos e os condenados, e os resultados obtidos na vida são apenas a prova para destacar o que Deus queria. Sabemos que Deus nos ama porque as coisas estão indo bem, porque não caímos na miséria. Mas, na medida em que a escolha está nas mãos de Deus, o fio da responsabilidade começa a diminuir. E isso quebra no mundo contemporâneo, quando começamos a ver professores espancados por pais que não admitem o julgamento da escola sobre seus filhos.

Um sentimento de vergonha só pode existir se o vínculo for mantido com a responsabilidade pelo comportamento de alguém. Uma sociedade na qual o senso de vergonha morreu é uma sociedade na qual o senso de responsabilidade também desapareceu. Sabemos bem como isso se reflete nos tratamentos analíticos, onde a retificação subjetiva se torna mais difícil, porque a ideia de que a culpa é da outra agora está espalhada nos  programas de entrevistas. de uma política que infla o ego e perdeu toda a conexão com a idéia de educar, de se colocar como exemplo. A política, no entanto, sabemos, infelizmente, é apenas o epifenômeno da vida civil, seu reflexo, e é um negócio procurar onde está a chave para levar as coisas. Um desenho recente dizia: "A nova descoberta italiana: o novelo sem bandoleira". De forma humorística, essa é uma síntese da verdade. Não há como tirar coisas: política degradada, sistema educacional deteriorado, corrupção desenfreada, alguém ou algo para culpar. Sabemos bem, na experiência da clínica psicanalítica, que não há uma cunha para se tirar as coisas. Há sempre apenas um novelo dentro do qual entrar para desembaraçar linha por linha. Mas a única condição para a qual isso pode ser feito é que o sujeito se coloque em uma posição responsável, que ele tenha que seguir o fio do fantasma como a coisa mais íntima da qual se envergonha, o que desvenda o conhecimento inconsciente até o âmago desse problema. maçã que Adão e Eva morderam para poder se ver nua e envergonhada. A outra gênese de vergonha que nossa tradição nos dá, ao lado do mito narrado em Protagora, está de fato em Gênesis. Se no mito grego O Aidos  deve ser distribuído a todos para que todos tenham uma noção do limite; na história bíblica, é apenas a partir de uma violação do limite que a modéstia aparece, quando a vontade de saber em que a técnica se origina não entra em jogo, não como um presente de Deus. um titã, mas como um estupro de natureza destinada a ser dominada. De fato, eles recitam na  história judaica, as palavras de Deus endereçadas a Adão: "Eu te domino dos animais da terra, dos pássaros do ar, dos peixes do mar, das ervas e dos frutos das árvores" (1). A vergonha surge aqui do discurso de um mestre que viola o conhecimento. Somos herdeiros das duas vertentes da tradição: o que vê a vergonha como um freio e o que vê a vergonha brotar, uma administração pacífica do invisível de um lado e uma violação dramática do outro, e talvez exista por esse motivo, é difícil encontrar o limiar da modéstia sem o qual o humano está destinado a afundar em sua própria negação irremediável." 
https://www.marcofocchi.com/

sexta-feira, 6 de março de 2020

SONHOS E A INTERPRETAÇÃO

Para Sigmund Freud, fundador da Psicanálise, ao escrever e publicar seu trabalho chamado "A Interpretação dos Sonhos" em 1900, apresenta-o como um método eficiente de acesso ao Inconsciente. O livro é considerado por todos os Psicanalistas como o marco do início da Psicanálise. Para muitas pessoas os sonhos podem não ter nenhum significado, mas ainda assim despertam a curiosidade. Para a Psicanálise os sonhos revelam desejos, traumas e outros elementos recalcados para o Inconsciente.

Freud concluiu que no Inconsciente do sujeito adulto, permanece uma criança (ele próprio), a qual irá direcionar a sua vida em vários aspectos. Os sonhos do sujeito adulto são diferentes dos sonhos das crianças, pois estas, até uma determinada idade, não sofrem os efeitos da censura.








Os sonhos são para a Psicanálise uma forma de exprimir os nossos desejos inconscientes, que muitas vezes nossa censura (Supereu) considera proibidos de serem realizados. Durante o sono esta censura tem um afrouxamento, o que faz com nossos sonhos na maioria das vezes não tenham "pé e nem cabeça". O analista através da escuta do sujeito, ajuda-o a decifrar este enigma.

Freud, ao longo de sua vida, escreveu vários artigos sobre os sonhos, os quais até hoje são considerados fundamentais na evolução do processo analítico. Com os estudos atuais da Neurociência, muitos aspectos apontados por Freud, são validados. Benilton Bezerra Junior, médico e professor no Instituto de Medicina Social na UERJ, se dedica a estudar esta relação e publicou um livro "Projeto para uma psicologia científica:Freud e as neurociências" (2013) onde aprofunda a relação entre os trabalhos de Freud e a Neurociência.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

QUEM SE BENEFICIA COM A PSICANÁLISE?





Jacques Lacan disse: “SOU onde NÃO penso, e penso onde NÃO SOU”!   Não somos apenas o que pensamos ser. Cada sujeito que chega a um consultório de Psicanálise traz  marcas  que envoltas em redes inconscientes, afetam-no como um todo. Por isto, somos o que lembramos e o que esquecemos, somos as palavras que escutamos, somos as palavras lembradas e as esquecidas, somos as palavras que trocamos e as que “engolimos”, somos os nossos enganos e os nossos lapsos, somos nossos sonhos e nossos sintomas, somos resultado de um percurso pulsional duro e doloroso para atingir e mantermos a sobrevivência psíquica.      

Um(a) Psicanalista não dá conselhos, não quer resolver problemas do paciente, não julga um comportamento como certou ou errado, pois sabe que todos que chegam no consultório são sujeitos que carregam dores que precisam ser respeitadas. O paciente chega pelos mais diversos motivos: para se conhecer, para se descobrir, para nascer, ou até mesmo renascer. Ele chega para dar voz ao inconsciente, para conhecer este “estranho infamiliar” (Das Unheimliche de Freud) que assombra, assusta e assola através dos nossos próprios fantasmas.

Deixar este “estranho infamiliar” nas sombras é deixar a vida  à mercê de qualquer ideologia, qualquer comandante ou qualquer “animador de plateia”. Ao se dispor a entrar em uma análise, o sujeito se torna comandante da própria vida, ator e diretor da sua própria história.

O (a) Psicanalista, através da escuta dos diversos discursos do paciente, ajuda-o a interpretar os conteúdos inconscientes das palavras, ações e fantasias. A Psicanálise proporciona a cura através da palavra, pois somos adoecidos pelas palavras do Outro, e somente através da nossa própria palavra podemos ser curado das nossas marcas e sofrimentos.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O VÍCIO DE CELULAR E A COMPULSÃO NA PSICANÁLISE


"A compulsão é resultado de um conflito psíquico e de uma luta subjetiva entre duas funções opostas, estando o sujeito impossibilitado de escolher. Basicamente, por se tratar de um comportamento compulsivo, os pensamentos ou atos que a pessoa realiza lhe parecem um corpo estranho de uma força incontrolável." www.fasdapsicanalise.com.br


Quando se aborda o termo COMPULSÃO, é comum recorrer-se ao texto de Freud de 1914 denominado "Recordar, Repetir e Elaborar". A partir deste texto, Freud vai desenvolvendo os seus conceitos sobre compulsão à repetição e o termo vai assumindo uma importância clínica muito grande. Transportando esse conceito para a atualidade, pode-se afirmar que o sujeito moderno é um sujeito compulsivo.

A  noção sobre a compulsão, irá assumir um papel fundamental para a Psicanálise a partir de um texto escrito por Freud em 1920 quando publica seu trabalho chamado "Além do Principio do Prazer", onde se estabelece a diferença entre o principio do prazer (Pulsões de Vida) e o processo compulsivo estimulado pelas Pulsões de Morte.

Outro conceito importante para a Psicanálise é a diferenciação de "falta" e de "vazio". Segundo Lacan a falta vai produzir um desejo e o vazio (furo) vai produzir uma busca de uma satisfação através da compulsão.



Todos os mamíferos são dotados de instintos (sobrevivência e perpetuação da espécie) que são uma programação biológica que possui objetos determinados para suas satisfações. O instinto de sobrevivência (sede e fome) só pode ser satisfeito com água e o animal como para "matar" a fome. O instinto sexual só se manifesta no macho quando a fêmea da especie está no cio.  

Nós seres humanos fomos deturpados pela capacidade de falar e os nossos instintos se transformaram em pulsões. Freud (1916) define pulsão como um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo - dentro do organismo - e alcança a mente, como uma medida da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo.Essas pulsões tem origem nas zonas erógenas do corpo(olhar, anal, oral e voz)  buscam a satisfação e essa satisfação é que origina as compulsões.

Existem várias compulsões, todas ligadas à sensação de vazio e às zonas erógenas. Os alimentos, drogas ilícitas, drogas licitas, pornografia, aparelhos celulares, compras, televisão, etc..

A Psicanálise irá atuar no tratamento das compulsões basicamente de duas maneiras. A primeira é na investigação das causas que conduziram à satisfação, de modo a compreender o que está por trás das práticas adotadas pelo indivíduo e a segunda, através de resignificação desta satisfação obtida pela pulsão.