Texto escrito pelo Dr.
Oswaldo Rodrigues Jr., Psicoterapeuta sexual e Diretor do InPaSex – Instituto
Paulista de Sexualidade e publicado no seu blog http://terapiadasexualidade.blogspot.com.br
Quando
pensamos em desejo pelas atividades sexuais cada um de nós parece que tem sua
compreensão do que é este desejo. E exatamente por isso que esta discussão pode
ser complicada, inclusive para profissionais de saúde.
O
desejo sexual é um esquema regulador que media as necessidades físicas, as
individuais e as sociais, e por sua vez é regulado por estas
instâncias.
O
que chamamos de desejo sexual é aquele estado de sentido subjetivo, e que pode
ser disparado por percepções internas (a exemplo de pensamentos, lembranças,
sensações físicas ou emoções) e externas (estímulos que atingem os cinco
sentidos), e este desejo pode conduzir a um comportamento sexual externo, mas
nem sempre e ser diferente entre as pessoas.
Muitas
pessoas e mesmo profissionais de saúde tentam compreender se existe mais ou
menos desejo sexual questionando a frequência coital. O problema é que o número
de vezes que alguém faz sexo não denota, necessariamente, a quantidade de desejo
sexual. A frequência de atividades sexuais é dependente de muitas circunstâncias
externas e sociais, interferindo nesta compreensão.
Existe
um fundo biológico nesta discussão, mas o limite desta designação natural e
biológica é a reprodução. Uma vez alcançada o desejo é destituído desta condição
biológica. Isto talvez explique a diminuição drástica de motivação para sexo num
casal pós terem filhos...
Então,
para que o desejo sexual possa surgir, várias condições são necessárias, como
integridade anatômica e fisiológica, equilíbrio psicossocial e situações com
potencial erótico, em geral descritas como "um clima adequado".
Nosso
interesse através do consultório, no InPaSex, atentamos para a perspectiva
psicológica. Assim consideramos os fatores mais importantes que afetam o desejo
sexual: a ansiedade, a depressão, o estresse e fatores do relacionamento de
casal.
Mas
também podemos apontar vários indícios de como as pessoas sentem pouco desejo
sexual:
1.
Não aprenderam a perceber de forma adequada seus próprios níveis de excitação
sexual fisiológica. A percepção da excitação, como sensação genital, está neles
diminuída ou mal classificada.
2.
Não aprenderam a facilitar a excitação em si mesmos.
3.
Usam um conjunto limitado de indícios para definir uma situação como
sexual.
4.
Manejam um conjunto limitado de indícios para definir uma situação como
sexual.
5.
Têm expectativas limitadas quanto à própria capacidade de excitação.
6.
Não percebem a si mesmos como muito sexuais.
E
ainda precisamos considerar que o desejo sexual apresenta diferenças de gênero:
em geral os homens manifestam desejos sexuais mais intensos e frequentes do que
as mulheres, o que se manifesta como maior atividade sexual. O desejo sexual
masculino parece ser qualitativamente diferente do feminino em nossa cultura. O
homem em geral busca um objeto sexual inespecífico para obter prazer orgásmico,
ao passo que a mulher busca um objeto sexual específico, com o qual estabelece
uma relação afetiva. Isto leva muitas vezes a que o homem finja afeto para obter
o coito e que a mulher realize o coito para expressar afeto ou como recompensa
pelos sentimentos afetivos manifestados (reais ou fingidos) pelo
homem.
Assim
o desejo sexual é um constructo multidimensional. O desejo se diferencia em
desejo sexual com e sem parceiro. Estes dois aspectos servem para finalidades
diferentes. Nosso grupo de pesquisas, o GEPIPS, se encontra pesquisando um
instrumento avaliatório para compreender estas diferenças, e continuamos a
coletar informações a partir de pessoas que respondem a um questionário, e assim
podemos comparar e conhecer estas diferenças.
Compreender
o desejo sexual é fundamental para o tratamento de problemas e disfunções
sexuais. Muitos profissionais de saúde se esquecem deste importante fator e
falham no tratamento das queixas sexuais masculinas e femininas.
O
tratamento de problemas de desejo sexual é considerado como dos mais difíceis,
em especial por demorar-se mais para ser superado, mas é viável e permite o
estabelecimento de um relacionamento a dois de modo adequado e
satisfatório.