ENAMORAMENTO
O início de um
relacionamento é uma época singular. Apesar de o mundo continuar girando na
mesma velocidade, para o casal apaixonado, as horas voam quando os dois estão
juntos e duram uma eternidade quando
estão separados. A rotina é dominada pelo sentimento da espera de um novo
encontro.
Durante a chamada fase de
encantamento, o casal está mais aberto e livre por não carregar a bagagem dos
referenciais. Ambas as parte se expressam de maneira mais autêntica. "O
indivíduo sente-se leve por estar sendo desejado apenas por aquilo que ele
é",
O amor infantil é ilimitado; exige a posse exclusiva,
não se contenta com menos do que tudo. Possui, porém, uma segunda
característica; não tem, na realidade, objetivo, sendo incapaz de obter
satisfação completa, e, principalmente por isso, está condenado a acabar em
desapontamento. (FREUD,
1987 Edição Eletrônica, v. XXI).
Um rosto, ou uma voz, ou
uma maneira de olhar, ou um jeito da mão. O corpo estremece. É a paixão. O
individuo está apaixonado. Tudo acontece num exato momento. No inicio da
relação deseja-se somente uma coisa: atuar as paixões. E atuá-las num clima de
perenidade e alucinação primitiva, próprias do inconsciente.
Um só corpo, uma só mente,
um alucinar junto para a satisfação dos desejos incestuosos. Ele é o pai que
ela deseja apaixonada e ardentemente. Ela é a mãe exclusiva pronta para
satisfazer-lhe todas as necessidades e desejos. Nada de conversar, nada de reprimir, nada de simbolizar os afetos
dominadores e ardentes. Somente a vivência
das paixões.
Seja qual for o conteúdo
da motivação para a escolha, seja ele mais primitivo ou mais atual, ocorre
sempre um cruzamento no momento do encontro. Cruzamento este entre o passado e
o presente de ambos envolvidos,
e então se estabelece um ponto, uma unidade indivisível, um núcleo de vivência mútua.
Esta vivência, este núcleo
que à primeira vista constitui-se de elementos irreconhecíveis, mas cujo
produto final retira da percepção conflitos e angústias, remete o casal a um estão ilusório de
completude (narcísica).(Lamanno – 1993)
Sob o viés psicanalítico,
as afinidades encontradas entre duas pessoas são ecos do passado e que
reproduzem os primeiros amores. O que está
sendo evocado nestes encontros é o conhecimento e o desejo de infância, isto é, a recuperação de versões anteriores do enamoramento do bebê pela
sua mãe.
Da psicanálise recebe-se a
idéia de que todos buscam retornar a um estado ideal, livre de conflitos,
separações, perdas, lutos, do tempo e da morte, exatamente igual a quando o bebê estava fusionado com a
mãe. Na memória inconsciente são guardadas
sensações dessa vivência e das relações experimentadas com os pais, irmãos e
com todos com os quais já houve um encontro ao longo da jornada de
desenvolvimento.