sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Professor, a Psicanálise e a motivação do aluno

Hoje constatei como é possível ser capturado pelo discurso Capitalista de Lacan no exercício da docência. Li um artigo de um Administrador e professor universitário aceitando que a motivação do aluno em classe depende dele (professor).

O discurso Capitalista é o quinto laço social elaborado por Lacan. Ele junta-se com os discursos do Mestre, da Universidade, da Histérica e do Psicanalista. Eles articulam como o sujeito se relaciona com a verdade, o saber e os objetos. Os discursos são referências na psicanálise e são usados para analisar como as relações humanas interagem.

Estou preparando uma palestra para a Semana da Educação da IES, onde ministro as disciplinas de Estratégia Empresarial e Administração de Serviços para o curso de Administração. Nela busco mostrar como o discurso da Ciência (a visão matemática) – e por consequência o discurso Capitalista tomou conta do mundo que chamamos de pós-moderno. Em todas as áreas, e também na Educação, busca-se universalizar (valer para todos) alguns conceitos que não são possíveis (e nem passiveis) de universalização.

Freud numa das suas famosas frase-conceito, afirma que existem três profissões impossíveis de serem exercidas. A de professor, de psicanalista e de governar (administrar). Ele afirma isto porque  o ser humano está sempre buscando satisfazer suas necessidades e ou seus desejos num processo de demanda sempre insatisfeita e por isto não irá ‘agradar’ a todos os envolvidos nestes três processos. Um administrador nunca irá satisfazer todos seus administrados, um professor nunca irá satisfazer todos seus alunos e um psicanalista não satisfaz seus pacientes.

A psicanálise mostra que todo processo de motivação está articulado a uma falta essencial que é adquirida  ao nascer, e que para preenchê-la iremos montar estratégias e criar, através das nossas fantasias, objetos (o saber, eletrônicos, pessoas, etc.) que terão este poder.

Até alguns anos passados, o mundo era calcado em ideais e na ética, hoje estes ideais caíram (sem falar na ética) e o que vale hoje é a capacidade de satisfazer os desejos e necessidades do mercado (leia-se – das pessoas).

A grande maioria das instituições de ensino volta-se para as leis de mercado, pois toda a organização capitalista tem como objetivo primeiro o lucro. Nesta forma de pensar é preciso identificar o cliente, que nesta situação será o aluno e não mais a sociedade que precisa de profissionais competentes (com saber). Para agradar este ‘cliente’ é necessário satisfazer a necessidade e/ou desejo dele que, muita vezes, é o de apenas possuir um ‘canudo’ e não o ‘saber’.

Portanto colegas Administradores e Docentes, o que motiva é a falta interna de algo, e não um objeto (professor) que é apenas um semblante do saber que o aluno deveria procurar, o ‘saber fazer’ de uma profissão. Se pensarmos que o professor é o motivador do aluno em sala de aula é estar contribuindo para que o canudo se transforme, cada vez mais, em mercadoria e que pode ser conquistado apenas pelo dinheiro e não pelo sacrifício de horas de lazer e pelo esforço de estudar durante várias horas.