sábado, 15 de fevereiro de 2014

A IMPORTÂNCIA DA MÃE NA VIDA DA FILHA


Para o Psicanalista os enigmas dos pacientes se tornam motivo para estudar a teoria, não que ela dará uma resposta padrão para cada questão, mas a teoria em Psicanálise é uma ferramenta para a construção de um modelo singular de cada indivíduo.

Duas de minhas pacientes apresentam relação muito simbiótica com suas mães apesar delas já terem falecido. Mesmo com a origem igual para ambas, cada uma delas em suas singularidades trilhou caminhos distintos, mas com resultados de muitos sofrimentos.

Estes dois casos me motivaram a reestudar (já havia feito isto uma vez) o trabalho da Psicanalista Malvine Zalcberg denominado “A Relação Mãe e Filha”. Com maior experiência clinica e teórica fui movido em meu desejo, escrever algumas linhas para que, quem as lesse, pudesse ter uma noção da importância desta relação que marca a estruturação emocional de todos nós, e de forma mais intensa, a estruturação das filhas.

Freud e Lacan estudaram a sexualidade feminina, e nestes estudos a relevância do papel da mãe ficou evidenciada.

Todos nós chegamos a este mundo na condição de “falta a ser”. Isto é, chegamos como se fossemos um livro em branco cuja vida fosse escrita a partir da mediação dos “outros”, aqueles que se dedicam a satisfazer nossas necessidades de sobrevivência. Estes “outros” nos inserem na cultura em que vivem através da linguagem (fala) e de onde vêm nossas identificações.

No caso especifico da menina, ela remete a mãe (outro) questões significativas na sua estruturação emocional, como por exemplo – “O que é ser uma mulher?”. As respostas recebidas (mais do que uma) serão estruturantes tanto do seu emocional como da sua sexualidade.  Neste processo ocorrem dois movimentos chamados de “Alienação” e “Separação”.

O primeiro movimento (Alienação) faz com que a menina se funda com a mãe em uma relação que não existam diferenciações. No segundo (Separação), mediada pela função do pai, ocorrem as diferenciações. Pode-se perceber a importância da função paterna no processo de individuação da menina.

Muitas vezes a mãe dificulta o processo de identificação da filha, isto é, faz da filha uma extensão de si mesma, quer que a filha seja aquilo que ela não foi, ou não conseguiu ser. Este fato se transforma em um “abuso identificatório” (Malvine Zalcberg), significa que a construção da identidade da menina é dificultada ou até mesmo, se torna inexistente.


O amor da mãe nem sempre é saudável, muitas vezes chega a ser até prejudicial para o futuro   emocional e sexual da filha. “O amor de uma mãe por sua filha funde-se facilmente com o amor que ela tem por si mesma. Sob a chancela da sanção social do amor da mãe por uma filha que favorece exercer sobre a mesma, um grande poder, produzem-se situações desestruturante para a filha”. Malvine Zalcberg in Relação Mãe e Filha.