Para
o Psicanalista os enigmas dos pacientes se tornam motivo para estudar a teoria,
não que ela dará uma resposta padrão para cada questão, mas a teoria em
Psicanálise é uma ferramenta para a construção de um modelo singular de cada
indivíduo.
Duas
de minhas pacientes apresentam relação muito simbiótica com suas mães apesar
delas já terem falecido. Mesmo com a origem igual para ambas, cada uma delas em
suas singularidades trilhou caminhos distintos, mas com resultados de muitos
sofrimentos.
Estes
dois casos me motivaram a reestudar (já havia feito isto uma vez) o trabalho da
Psicanalista Malvine Zalcberg denominado “A Relação Mãe e Filha”. Com maior
experiência clinica e teórica fui movido em meu desejo, escrever algumas linhas
para que, quem as lesse, pudesse ter uma noção da importância desta relação que
marca a estruturação emocional de todos nós, e de forma mais intensa, a
estruturação das filhas.
Freud
e Lacan estudaram a sexualidade feminina, e nestes estudos a relevância do
papel da mãe ficou evidenciada.
Todos
nós chegamos a este mundo na condição de “falta a ser”. Isto é, chegamos como
se fossemos um livro em branco cuja vida fosse escrita a partir da mediação dos
“outros”, aqueles que se dedicam a satisfazer nossas necessidades de
sobrevivência. Estes “outros” nos inserem na cultura em que vivem através da
linguagem (fala) e de onde vêm nossas identificações.
No
caso especifico da menina, ela remete a mãe (outro) questões significativas na
sua estruturação emocional, como por exemplo – “O que é ser uma mulher?”. As
respostas recebidas (mais do que uma) serão estruturantes tanto do seu
emocional como da sua sexualidade. Neste
processo ocorrem dois movimentos chamados de “Alienação” e “Separação”.
O
primeiro movimento (Alienação) faz com que a menina se funda com a mãe em uma
relação que não existam diferenciações. No segundo (Separação), mediada pela
função do pai, ocorrem as diferenciações. Pode-se perceber a importância da
função paterna no processo de individuação da menina.
Muitas
vezes a mãe dificulta o processo de identificação da filha, isto é, faz da
filha uma extensão de si mesma, quer que a filha seja aquilo que ela não foi,
ou não conseguiu ser. Este fato se transforma em um “abuso identificatório”
(Malvine Zalcberg), significa que a construção da identidade da menina é
dificultada ou até mesmo, se torna inexistente.
O
amor da mãe nem sempre é saudável, muitas vezes chega a ser até prejudicial
para o futuro emocional e sexual da
filha. “O amor de uma mãe por sua filha
funde-se facilmente com o amor que ela tem por si mesma. Sob a chancela da
sanção social do amor da mãe por uma filha que favorece exercer sobre a mesma,
um grande poder, produzem-se situações desestruturante para a filha”.
Malvine Zalcberg in Relação Mãe e Filha.