Artigo científico escrito e publicado na Revista Imperium da Emil Brunner World University - Flórida USA
Resumo
É encontrado na atualidade, um
número cada vez maior de terapeutas que defendem a terapia de família ou de
casal, sob o ponto de vista holístico, que abrange uma compreensão
psicanalítica com outra sistêmica e outra cognitiva. Este trabalho tem como
objetivo abordar a teoria psicanalítica da Gênese do Aparelho Mental, das
Fantasias e suas implicações na terapia de casal. Parte-se da análise da gênese
do aparelho mental analisado com suporte teórico em de Sigmund Freud e Melaine
Klein, enfoca-se os instintos e as pulsões humanas. Enfatiza-se ainda o papel
das fantasias no primeiro momento do encontro amoroso, procurando estruturá-lo
a partir das fantasias inconscientes do bebê e da fusão narcísica inicial da
criança e sua mãe. São abordados também: o desenvolvimento libidinal, as
posições (estruturas) definitivas da organização da personalidade humana, os
complexos de Édipo e Castração, todos assuntos que são base teórica para a
compreensão dos vínculos que se formam entre sujeitos que decidem iniciar uma
nova família. A metodologia utilizada neste trabalho foi a bibliográfica.
Pode-se concluir que parte das mulheres, a vontade de ser protegida e ter
filhos é um exercício desde menina. Quando cresce aspira a ser protegida pelo
marido. Para os moços, a expectativa é ser acolhido num ninho de compreensão e
amor. Acredita poder realizar todos os sonhos levantados nas brincadeiras de
casinha. Com isto ocorre aqui um grande choque entre sonhos e realidade. Os
ideais muitas vezes acabam atrapalhando o entendimento do casal.
Palavras-chave: Abordagem Psicanalítica;
Aparelho Mental; Fantasias; Terapia de casal.
1 Introdução
Há milhares de
anos se discute sobre o amor e o casal. Estes temas sempre foram explicitados
em livros, músicas e nas artes. Os tempos atuais colocam no centro das
discussões a família, casamentos heteroafetivos e homoafetivos, divórcios, recasamentos,
com isto a família dentro dos modelos tradicionais praticamente se existe mais.
Apregoasse aos quatro ventos que a família está em crise.
Um dos campos
mais promissores da psicoterapia é aquele que tem a família como objeto de
estudos. Hoje existe uma substanciosa literatura referente essa temática,
provinda de distintas correntes da Sociologia, da Psicologia, da Psicanálise e
outras, com os respectivos seguidores denominados os terapeutas de família. Nas
correntes psicologica e psicanalítica têm-se o Modelo Sistêmico, a Terapia
Familiar Estrutural, a Terapia Estratégica Breve o Grupo De Milão e a Abordagem
Psicanalítica. Não é o objeto deste trabalho esmiuçá-las, mas sim de aprofundar
a abordagem psicanalítica no seu aspecto vincular. Especificamente as ligações
que se estabelecem entre um homem e uma mulher numa relação conjugal.
Cada uma das
correntes mencionadas segue os seus próprios referenciais teóricos e técnicos,
com abordagem técnicas e táticas bastante distintas entre si. Os princípios
psicanalíticos estão mais dirigidos aos diversificados tipos de conflito que
procedem do inconsciente dos indivíduos e dos grupos. Os sistêmicos, por sua
vez, privilegiam o funcionamento de um casal ou família, sob o enfoque de um
sistema, e isto é, esses terapeutas trabalham um nível mais próprio do
consciente e ficam mais voltados para permanente interação que sempre existe
entre todos os integrantes de uma família, com uma determinada ocupação de
lugares e de papéis, por parte de cada um deles, de sorte que cada um
influencia e é influenciado pelos demais.
A psicanálise,
como sendo uma forma de reflexão e prática, tenta compreender e estabelecer a
maneira como se opera esta díade homem-mulher, fundamentada na interação de
desejos e necessidades de cada um dos parceiros. Entra em cena para esclarecer
o que está por trás dos ornamentos do imaginário.
Este trabalho
visa basicamente abordar certos elementos que podem ser encontrados no decorrer
da prática clínica psicoterápica de casais de base psicanalítica. Nele
pretende-se identificar e discutir alguns aspectos específicos à dinâmica do
casal, pelo qual inicia-se uma família.
A proposta
deste estudo vai além da tentativa de dissertar sobre o encontro amoroso, vai
dizer da possibilidade ou da impossibilidade de manutenção deste primeiro
momento, desta ilusão de completude, deste amor esférico. Propõe-se aqui,
pensar na díade sujeito-sujeito e no amor. Para tanto, o estudo irá
direcionar-se para o questionamento do que possibilita o encontro amoroso e
inferir sobre o que desencadeia o desencontro.
Este trabalho tem como objetivo abordar a psicanalítica da gênese do Aparelho Mental, das Fantasias na terapia de casal
O tipo de pesquisa realizado neste trabalho foi uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa e descritiva, no qual foi realizada uma consulta à livros, dissertações e por artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes base de dados (livros, sites de banco de dados, etc.) “Biblioteca da FGV”, “Google acadêmico” e “Scielo”.
2 A gênese do aparelho mental
O sujeito não
pode ser considerado como um produto exclusivo de seu meio, tal como um
aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de
qualquer inspiração mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode,
tampouco, ser considerado um punhado de genes, resultando numa máquina
programada a agir desta ou daquela maneira, conforme teriam agido exatamente os
seus ascendentes biológicos. Se assim fosse, passaria pela vida incólume aos diversos
efeitos de suas vivências pessoais. Sensatamente, o sujeito não deve ser
considerado nem exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes
disso, uma combinação destes dois elementos em proporções completamente
insuspeitadas.
Para a fundamentação
deste trabalho será usada parte da teoria de Sigmund Freud, por ser, além de
básica, também considerada a mais ampla e profunda. Também serão abordadas
partes das teorias de alguns seguidores, principalmente Melaine Klein, que se destacou
pela análise de crianças e W. Bion, renomado cientista do psiquismo de grupos.
As ações e
opiniões conscientemente expressas são, em geral, suficientes para a finalidade
prática de julgar o caráter dos homens. As ações merecem serem consideradas antes
e acima de tudo, pois muitos impulsos que irrompem na consciência são ainda
reduzidos a nada pelas forças reais da vida anímica, antes de amadurecerem sob
a forma de atos. Com efeito, tais impulsos muitas vezes não encontram nenhum
obstáculo psíquico a seu progresso, exatamente porque o inconsciente tem
certeza de que serão detidos em alguma outra etapa. De qualquer modo, é
instrutivo tomar conhecimento do terreno tão revolvido de onde brotam
orgulhosamente nossas virtudes. É muito raro a complexidade de um caráter
humano, impelida de um lado para outro por forças dinâmicas, submeter-se a uma
escolha entre alternativas simples, como levaria a crer nossa doutrina moral
antiquada (Freud, 1987, p. 25).
Existe entre a
grande maioria dos estudiosos da gênese da mente humana, a concordância que no
processo de constituição do sujeito participam dois aspectos desiguais: o
primeiro está baseado nos vínculo de parentesco que definem uma família e
compreende o casal de tipo conjugal, constituído pelos que se tornarão os pais,
assim como os filhos, os irmãos e outros parentes significativos (cultura); O
segundo é formado pelas relações sociais e extrafamiliares, relações singulares
ou gerais e indistintas que são as raízes inconscientes da pertença social, da
ideologia, dos valores decorrentes da posição social e econômica, cujos
significados traspassam o EU e a família.
Ao longo de
todo século vinte, vários pontos desenvolvidos pela Psicanálise foram
comprovados, entre eles que o psiquismo tem a capacidade de registrar as
inscrições pertinentes às experiências de relações significativas, quer estas
sejam precoces, remontando à infância, ou mais tardias, datando da
adolescência, e que se refletiram na constituição do casal, da família, dos
laços amorosos e outros. Todas essas experiências primitivas correspondem ao
momento inaugural ou um ponto a partir do qual o Eu, através desse vínculo,
adquire como sujeito uma qualidade que não tinha antes.
Durante mais de
cem anos de pratica clínica individual, a Psicanálise tem se caracterizado pelo
estudo das representações e dos afetos governados pela diretriz do principio do
prazer, dos derivados e dos vestígios e inscrições das experiências precoces,
aquelas mesmas que imprimiram suas marcas no aparelho psíquico e contribuíram
para a construção do mundo interno deste indivíduo.
O Eu, mesmo
imaturo, é exposto à ansiedade provocada pela polaridade inata dos instintos de
vida e de morte. Para fazer frente a esta ansiedade persecutória, lança mão de
defesas primitivas, a negação, a divisão (spliting), a projeção e a introjeção.
Estas defesas são ativas mesmo antes do surgimento do recalque.
Melaine
Klein viu que “as crianças pequenas, incitadas pela ansiedade, estavam
constantemente tentando dividir (split) seus objetos e seus sentimentos, e
tentando reter sentimentos bons e introjetar objetos bons, ao passo que
expeliam objetos maus e projetavam sentimentos maus” ( SEGAL,1975, p.36).
O Eu durante seu desenvolvimento trabalha
dentro de duas estruturas, também chamadas posições, termo este introduzido por
Melaine Klein. Estas posições mostram um conjunto de fenômenos mentais como: o
tipo de ansiedade predominante; os mecanismos de defesa utilizados para dominar
esta mesma ansiedade; as pulsões em jogo; as características dos objetos que
estão contidos neste conjunto; as fantasias psíquicas; os pensamentos e
sentimentos do sujeito. Todos estes fenômenos fazem parte de um processo único
no qual nenhum deles pode ser considerado de forma independente dos outros.
O SUPEREU é a
integração das forças repressivas que o indivíduo encontra no decurso de seu desenvolvimento,
isto é, sua criação se realiza a partir das pressões da sociedade. O SUPEREU é
o responsável pelo desenvolvimento da consciência moral, da auto-observação, da
formação dos ideais, etc.
A atividade do
SUPEREU se manifesta de várias maneiras, a fim de poder reger as atividades do
EU. A atividade do SUPEREU também se evidencia nos conflitos com o EU,
principalmente na de dar origem, dentro do EU, do sentimento de culpa, de remorso,
ou a um desejo de penitenciar-se ou de fazer reparação.
O SUPEREU é
formado a partir da identificação da criança com o genitor do mesmo sexo, o que
ocorre ao solucionar-se o complexo de Édipo. É o momento em que o indivíduo
integra à sua personalidade aquilo que crê sejam os princípios básicos e ideais
dos seus pais. É nesse momento, que se desenvolve um autocontrole, que será o
substituto do controle parental. O sujeito só se torna socialmente responsável
pela força do SUPEREU.
2.1 Complexo de Édipo
Dada à
importância deste processo na estruturação da personalidade do sujeito e
consequentemente na compreensão das buscas inconscientes no processo de
apaixonamento é necessário definir o complexo de Édipo.
Conjunto organizado
de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais. Sob a sua
forma dita positiva, o complexo de Édipo apresenta-se na história de Édipo-Rei:
desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo sexual pela
personagem do sexo oposto. Sob sua forma negativa, apresenta-se de modo
inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do
sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na
chamada forma completa do complexo de Édipo.
Segundo Sigmund Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três e
os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período
de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito num
tipo especial de escolha de objeto. O
complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade
e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo
de referência da psicopatologia; para cada tipo patológico eles procuram
determinar as formas particulares da sua posição e da sua solução. A
antropologia psicanalítica procura encontrar a estrutura triangular do complexo
de Édipo, afirmando a sua universalidade nas culturas mais diversas, e não
apenas naquelas em que predomina a família conjugal” (Laplanche & Pontalis
1998, p. 77).
Assim, o
complexo de Édipo é uma configuração psíquica que surge num certo período de
desenvolvimento da criança e, posteriormente, diminui. Esta fase possui várias
formas, que quando estudadas profundamente, são derivadas de duas principais. O
complexo de Édipo clássico e o complexo de Édipo invertido. Na forma invertida
ocorre o desenvolvimento do ódio pela mãe e amor pelo pai.
No modelo dito
clássico, o menino se identifica com o pai, logo passa a desejar o amor da mãe;
esta lhe é “proibida”, não tanto como objeto sexual, mas como figura portadora
de amor condicional, ou seja, aquela cuja posse afetiva, daria ao menino todos
os poderes, tornando-o privilegiado, isento de limites e alguém não sujeito à
jurisdição das leis. O menino encara a mãe como sua propriedade, procurando
tornar-se sujeito absoluto, expulsando o pai de seu lugar junto à figura
materna. Porém fracassa porque ninguém pode ser tudo para outro sujeito, e um
dia descobre que ela (a mãe) transferiu seu amor e sua solicitude para um outro
homem (o marido da mãe).
A reflexão
deve aprofundar nosso senso da importância dessas influências, porque ela
enfatizará o fato de serem inevitáveis experiências aflitivas desse tipo, que
agem em oposição ao conteúdo do complexo. Mesmo não ocorrendo nenhum acontecimento
especial tal como os que mencionamos como exemplos, a ausência da satisfação
esperada, a negação continuada do bebê desejado, devem, ao final, levar o
pequeno amante a voltar as costas ao seu anseio sem esperança. Assim, o
complexo de Édipo se encaminharia para a destruição por sua falta de sucesso,
pelos efeitos de sua impossibilidade interna (Freud, 1997, p. 37).
Nas meninas,
segundo Freud (1924), o complexo de Édipo possui um problema a mais do que os
meninos. A menina considera-se como o objeto que seu pai ama acima de tudo o
mais. Segundo os estudos elaborados, em ambos os casos, a mãe é o objeto
original da criança, mas a menina deve transferir este processo para o pai. Isto ocorre através da percepção que
ela não possui um pênis e deseja tê-lo.
Freud (1925, p.
283) diz em seus escritos:
Nas
meninas, o complexo de Édipo levanta um problema a mais que nos meninos. Em
ambos os casos, a mãe é o objeto original, e não constitui causa de surpresa
que os meninos retenham esse objeto no complexo de Édipo. Como ocorre, então,
que as meninas o abandonem e, ao invés, tomem o pai como objeto? Perseguindo
essa questão pude chegar a algumas conclusões capazes de lançar luz exatamente
sobre a pré-história da relação edipiana nas meninas.
O desenvolvimento
da eleição de objeto pela menina é algo diferente, pois nela o complexo de
castração vem antes do complexo de Édipo. O medo da castração é substituído
pela inveja do pênis, o que resulta num afastamento da mãe, que também não
possui um, e numa aproximação com o pai que o
possui.
2.2 Complexo de castração
O conceito de
castração em Psicanálise designa uma experiência psíquica completa,
inconscientemente vivida pela criança por volta dos cinco anos de idade, e
decisiva para a absorção de sua futura identidade sexual. Além de ser o caminho
para a solução de importante fase da vida do indivíduo, que é o complexo de
Édipo, a castração também é decisiva no estabelecimento de algumas perversões.
Complexo
centrado na fantasia de castração, que proporciona uma resposta ao enigma que é
a diferença anatômica dos sexos (presença ou ausência de pênis) coloca para a
criança. Essa diferença é atribuída à amputação do pênis na menina. A estrutura
e os efeitos do complexo de castração são diferentes no menino e na menina. O
menino teme a castração como realização de uma ameaça paterna em respostas às
suas atividades sexuais, surgindo daí intensa angústia de castração. Na menina,
a ausência do pênis é sentida como dano sofrido que ela procura negar, compensar ou reparar (Laplanche
& Pontalis, 1998, p. 73).
O menino supera
o complexo de Édipo através do complexo de castração, enquanto a menina
desenvolve o complexo de Édipo por causa do complexo de castração. O menino
enfrenta a fase da castração com resistência ativa e destruição do complexo de
Édipo, enquanto a menina torna-se passiva, aceita a perda do pênis e desenvolve
o complexo de Édipo. O aspecto essencial dessa experiência consiste no fato de
que, pela primeira vez, a criança reconhece, ao preço da angústia, a diferença
anatômica entre os sexos.
Na menina, o
complexo de castração organiza-se de maneira muito diferente do desenvolto na
criança do sexo masculino, a despeito de dois traços comuns. O ponto de partida
de ambos a princípio é semelhante; num primeiro estágio, que identificaremos
como anterior ao complexo de castração, os meninos e as meninas sustentam,
indistintamente, a ficção que atribui um pênis a todos os sujeitos. O segundo
traço comum refere-se à importância do papel da mãe. A mãe, mesmo com todas as
variações da experiência masculina e feminina da castração, continua a ser
personagem principal até o momento em que o menino se separa dela – com
angústia e a menina – com ódio. Quer seja marcado pela ansiedade ou marcado pelo
ódio, o acontecimento principal do complexo de castração é, sem sombra de
dúvida, a separação entre a criança e a mãe, no exato momento em que a primeira
(a menina) a descobre (a mãe) castrada. Nunca é demais enfatizar que estes
afetos são sentidos ao nível inconsciente, e são sentidos de uma forma difusa e
ambivalente.
Embora a menina
jamais deixe de estar ligada afetivamente ao pai e várias escolhem maridos
parecidos com os pais, quando adulta ansiar por um filho. É neste particular que a mulher pode chegar à
plenitude da sua feminilidade superando o complexo de castração.
Agora,
porém, sua aceitação da possibilidade de castração, seu reconhecimento de que
as mulheres eram castradas, punha fim às duas maneiras possíveis de obter
satisfação do complexo de Édipo, de vez que ambas acarretavam a perda de seu
pênis — a masculina como uma punição resultante e a feminina como precondição.
Se a satisfação do amor no campo do complexo de Édipo deve custar à criança o
pênis, está fadado a surgir um conflito entre seu interesse narcísico nessa
parte de seu corpo e a catexia libidinal de seus objetos parentais. Nesse
conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o ego da criança volta
as costas ao complexo de Édipo (Freud, 1925, p. 280).
A Psicanálise
focaliza seus estudos e sua atenção nos aspectos familiares da formação do
psiquismo humano a partir das chamadas experiências primitivas. Todos vínculos
significativos do sujeito, sem exceção, têm um ponto de partida. Tal ponto pode
constituir para ele um primeiro momento uma vez que, no plano de sua
subjetividade, sobrevém algo de novo, ou seja, algo que não tinha sido
inicialmente considerado. A partir do momento e na medida em que essa
experiência deixa vestígios, o Eu, que é o sujeito do vínculo, inscreve nele
algo que não existia antes e que o modifica. Torna-se um sujeito outro, o que
não estava previsto na origem.
2.3 Instintos e pulsões e suas diferenças
A
conceitualização das forças originárias do ISSO, as pulsões, fazem-se
necessárias. Assim:
Instinto é
o esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco
varia de um indivíduo para outro, que se desenrola segundo seqüência temporal
pouco suscetível de alterações e que parece corresponder a uma finalidade. É
também um termo usado por certos autores psicanalíticos (franceses) como
tradução ou equivalente do termo freudiano TRIEB, para o qual numa terminologia
coerente, convém recorrer ao termo pulsão (Laplanche & Pontalis, 1998, p.
241).
Sob o aspecto psicológico
é difícil a compreensão completa das pulsões. Elas se situam entre o biológico
e o psicológico e podem ser estudados a partir destas duas óticas. Pode-se
dizer que a pulsão é um fenômeno biológico que
possui representante psíquico. Impulsos, tendências, desejos e fantasias
inconscientes são os representantes psíquicos dos instintos. Estando estes
representantes, afetiva e efetivamentente ligados entre si. As pulsões tem como base os instintos (programas
biológicos) que são “pervertidos” pela capacidade da fala. Aqui o termo
perversão não possui o sentindo pejorativo, mas sim o sentido de mudança,
desfiguração ou descaracterização. Em todos os mamíferos (exceto o humano)
existem dois instintos que são os de sobrevivência (indivíduo) e o sexual (espécie)
que possuem objetos fixos para serem satisfeitos. Os instintos sexuais
desencadeiam uma incoercível tendência à união com outro indivíduo, que acaba
na criação de mais outro indivíduo. O instinto sexual na espécie animal somente
se manifesta quando a fêmea da espécie está no cio. Após a satisfação do
instinto, o sujeito se afasta dos objetivos e necessidades e tende ao repouso
Já uma pulsão
causa tensões no sistema nervoso central que se propaga pelo organismo como um
todo. Ela é de um caráter urgente e irresistível e se renova constantemente. A pulsão
representa um estímulo biológico que impele o organismo a ter certas reações.
Em relação a
estas reações, têm-se duas origens dos estímulos, uma externa e outra interna.
A reação a um estímulo exterior é simples e objetiva, ou ele é aceito e
assimilado ou ele é rejeitado através de defesa ou de fuga. Entretanto, quando
o estímulo é interior (caso da pulsão) a defesa ou a fuga não são possíveis. A
reação mais simples e primitiva a um estímulo é a de desenvolver uma atividade
que leva a satisfação do mesmo e que a Psicanálise chama de GOZO.
As pulsões de
vida desencadeiam uma incoercível tendência à busca do prazer e fuga do
desprazer. A satisfação das pulsões de vida causa estado de prazer. A
satisfação de uma pulsão de vida é sempre agradável. (S. Freud In A Repressão)
As pulsões de
morte comportam o desejo de retorno ao estado inorgânico, contrapondo-se às
pulsões de vida e são de difícil observação, que se faz através de seus
representantes, quando são encontrados sujeitos empenhados em processos de
autodestruição.
São também
representantes dessas pulsões (de morte), as atitudes dita religiosas
fanáticas, como autoflagelação, automutilação, além do suicídio, a busca
incessante do fracasso, da infelicidade, das situações de risco, etc...
A pulsão de
morte é notado no bebê que “devora” o seio materno, na tentativa de
incorporá-lo a si; aliás, ele faz o mesmo com partes de seu corpo que são
sugadas com avidez. Sigmund Freud denomina esta tendência destrutiva profunda
como masoquismo primário. Todo o bebê é assim portador de um narcisismo
primário e de um masoquismo primário que se contrapõem.
A pulsão na
Psicanálise é a tendência permanente, e em geral inconsciente, que dirige e
incita a atividade do sujeito. As pulsões se desdobram em complexos de
representações inconscientes que organizam a sexualidade humana e também,
funções corporais que não são normalmente consideradas sexuais, como por
exemplo, as condutas orais e de excreção. A pulsão é a representante psíquica
de uma fonte contínua de excitação proveniente de fontes internas do organismo.
Ela está situada entre o limiar do biológico e do mental.
Pulsão é o
processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator
de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Sigmund
Freud , uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão);
o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte
pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a meta (Laplanche
&Pontalis, 1998 p. 394).
As pulsações
parciais se distinguem por suas fontes somáticas. A pulsão se origina em um
órgão que é a sede de uma excitação especificamente sexual que é chamado de
“zona erógena”. Essa zona erógena de onde provém a pulsão parcial se comporta como
um aparelho sexual secundário, podendo usurpar as funções do próprio aparelho genital. As zonas erógenas são: ORAL:
alimentos, beijar, chupar, sugar,etc.;
ANAL: apegos a determinados objetos, compulsões por ter “coisas”, etc.;
ESCÓPICA: pinturas, esculturas, beleza, corpo, seios, pés, etc.; VOZ: música,
sons.
Para Freud, em
principio, a pulsão sexual não visa, portanto a servir a genitalidade e a
reprodução. Seu alvo na infância e também depois é obter uma certa satisfação
que é qualificada, a propósito das perversões ou da pulsão sublimada, pelo
termo “gozo”.
A definição de
pulsão sexual descrita abaixo dá uma visão globalizante desta intrigante e
intrigada carga energética que nos faz tender para um objetivo denominada por
Freud de LIBIDO.
De acordo com a
fixação da libido nas diversas fases do desenvolvimento humano, divide-se em
fase oral, anal e fálica o período pré-genital do desenvolvimento psicossexual
do individuo. A oral constitui-se na primeira fase desenvolvida pelo ser humano
quando fora do útero materno, e está
relacionada com o a autopreservação.
Primeira
fase da evolução libidinal, em que o prazer sexual está predominantemente
ligado à excitação da cavidade bucal e dos lábios. A atividade de nutrição
fornece as significações eletivas pelas quais se exprime e se organiza a
relação de objeto; por exemplo a relação de amor com a mãe será marcada pelas
relações seguintes: comer e ser comido. Abraham propôs subdividir-se esta fase
em duas atividades diferentes. Sucção (fase oral precoce) e mordedura (fase
oral-sádica) (Laplanche & Pontalis, 1998, p. 184).
Imediatamente
após o nascimento, a criança mantém-se totalmente alheia ao mundo exterior;
considera-se o centro do mundo, para aprender, mais tarde, que o seio não lhe
pertence e que pode ser removido sem o seu consentimento. Sua ligação será
feita através da percepção da sensação de saciedade de suas pulsões com o seio
materno, primeiro objeto fora de si mesmo (narcisista) que é percebido. Nesta
fase, o interesse primário do indivíduo está concentrado na sua boca e o que
ela pode realizar, o que instintivamente faz com que ele leve tudo à boca.
É
obviamente tratado como parte de seu próprio corpo, representando o primeiro
“presente”: ao desfazer-se dele, a criaturinha pode exprimir sua docilidade
perante o meio que a cerca, e ao recusá-lo, sua obstinação. Do sentido de
“presente”, esse conteúdo passa mais tarde ao de “bebê”, que, segundo uma das
teorias sexuais infantis, é adquirido pela comida e nasce pelo intestino. A
retenção da massa fecal, a princípio intencionalmente praticada para tirar
proveito da estimulação como que masturbatória da zona anal, ou para ser
empregada na relação com as pessoas que cuidam da criança, é, aliás, uma das
raízes da constipação tão freqüente nos neuropatas (Freud, 1987, p. 79).
Nas relações
objetais (amorosas inclusive), são encontrados efeitos importantes desta fase
como, por exemplo, a semente da complexa expressão sadomasoquista quer no nível
relacional (dominação-submissão) quer da estruturação da pessoa (autopunição e
prazer sádico).
2.4 Fantasia
“São
chamadas normalmente fantasias, ceninhas, historias que se contam, seqüências
imaginadas com múltiplas variações das quais se é o herói.” (Desprats-Péquignot,
1994, p. 63).
A presença da
fantasia, tal como a concebe a Psicanálise, é inerente à vida psíquica do
indivíduo, pois como pode ser observado durante o estudo do sistema
inconsciente, sua caracterização ocorre pelo processo primário de pensamento, o
investimento libidinal passa de uma representação a outra tentando reencontrar
as satisfações perdidas das primeiras experiências.
Segundo Freud (1987)
após a introdução do Princípio da Realidade apenas uma espécie de atividade do
pensamento permanece livre do teste da realidade, é a atividade do
fantasiar.(os dois princípios do funcionamento mental). Segal (1975) afirma que
a fantasia é uma das maneiras de capacitar o Eu a sustentar a tensão sem uma descarga do sistema motor
imediata.
Como expressão
típica do sistema inconsciente a fantasia inconsciente sempre opera, em algum
nível, com os objetos primários e com essa porção da libido insatisfeita que
voltou a se carregar por via regressiva. Para o inconsciente não existe
diferença se uma experiência é real ou não (fantasia). Para ele uma fantasia
sempre se constituirá numa experiência.
Roteiro
imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou
menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em
ultima análise, de um desejo inconsciente. A fantasia apresenta-se sob diversas
modalidades: fantasias consciente ou sonhos diurnos; fantasias inconsciente
como as que a análise revela, como estruturas subjacentes a um conteúdo
manifesto; fantasias originais (Laplanche &Pontalis, 1998, p. 169).
As fantasias
são numerosas e sujeitas a variações pessoais conforme os acontecimentos reais
que lhe deram sustentação. Existem fantasias típicas com as quais o indivíduo,
de acordo com sua predisposição, reage a certas experiências. Também existem
fantasias para as quais não existe experiência real que lhes dê base. E são
chamadas de fantasias primordiais.
As fantasias
surgem onde falta uma satisfação real; se uma necessidade do sujeito não for
satisfeita por uma experiência real, abre-se o espaço para o surgimento da
fantasia. Este surgimento não ocorre aleatoriamente, é sempre determinado
através da correspondência à fase de desenvolvimento libidinal na ocasião. Cada
fase libidinal possui seu próprio meio de expressão, uma linguagem
característica e especifica.
3 Resultados e Discussões
O ponto de
partida do desenvolvimento psíquico é o estado de indiferenciação que o bebê
possui com sua mãe. O nascimento marca esta separação e inunda o bebê de
sensações nunca sentidas e incapazes de serem indiferenciadas, sendo esta a
base para toda ansiedade futura que acompanhará o individuo por toda sua vida.
Nesse estágio do desenvolvimento do Eu, os objetos parentais fornecem a
assistência imprescindível para a sobrevivência do bebê e por causa disto se
transformam em responsáveis pelo prazer e pela dor.
No começo
da vida pós-natal, o bebê experimenta a ansiedade proveniente de fontes
internas e externas. Há muitos anos que sustento a opinião de que a atividade
interna do instinto de morte dá origem ao medo do aniquilamento e de que é essa
a causa primaria da ansiedade persecutória. A primeira fonte externa de
ansiedade pode encontrar-se na experiência do nascimento. Essa experiência
segundo Freud, fornece o padrão para todas as situações posteriores de
ansiedade, está votada a exercer influencia sobre as primeiras relações do bebê
com o mundo externo” (Klein, 1982, p. 217).
O estado de
indiferenciação, também conhecido com narcisismo primário, cria no individuo a
fantasia originária, ou mito, de retorno ao ventre materno – como forma de
abolir toda separação. Essa situação é facilmente encontrada em muitos vínculos amorosos, onde pelo menos
um dos dois da parceria desloca o centro de gravidade do seu próprio Eu e o
desloca para o outro. Freud chamava esta sensação de sentimento oceânico.
Para Freud, o
consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo do que se está
ciente num dado momento. O interesse de Freud era muito maior com relação às
áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava
Pré-Consciente e Inconsciente.
O Inconsciente
(Ics) abrange aqueles elementos psíquicos, cuja acessibilidade à consciência é
difícil ou impossível. Estes elementos se caracterizam das seguintes maneiras:
a)
São
inacessíveis à consciência;
b)
Seu
funcionamento se dá através do chamado processo primário (busca do prazer e fuga do desprazer);
c) Natureza
não verbal dos seus resíduos mnêmicos;
d) Opera
de conformidade com o princípio do prazer;
e) Está
relacionada com a vida pulsional;
f) Seu
caráter é infantil, pois alguns dos seus conteúdos são os desejos da infância.
Os conteúdos do
Inconsciente são de grande importância na determinação da conduta e do
pensamento do sujeito, pois eles são representantes das pulsões e sobre elas
(pulsões) ocorrem grandes cargas de energia pulsional que induzem, estes
representantes a voltarem à consciência através do Pré-consciente.
O
Pré-consciente (Pcs) é o sistema no qual o material fica ausente da
consciência, mas permanece acessível de uma forma não atualizada. Estes
elementos mentais se tornam acessíveis através da concentração da atenção.
O
Pré-consciente contém derivados do inconsciente e também armazena impressões do
mundo exterior, estando assim ligado à realidade e também ao inconsciente. Seu
desenvolvimento ocorre à medida que o indivíduo está constantemente sujeito à
influência do ambiente, que o compele a controlar e modificar suas reações. A
assimilação de ordens, proibições e o desenvolvimento de habilidades como falar
(inicialmente palavras isoladas, depois frases estruturadas) que são
internalizadas.
Neste sistema
desenvolve-se uma instância especial que exerce a crítica moral e lógica,
controlando as tendências que vem do Inconsciente permitindo que algumas delas
cheguem a consciência e outras não. O Pré-consciente coincide em parte com a
função do SUPEREU.
O Consciente
(Cs) é o sistema pelo qual tem-se a percepção de um estímulo. Estes estímulos
podem ser externos (sensitivos) e internos (psíquicos e vegetativos). No estado
de vigília, o sistema Consciente está voltado para o mundo exterior absorvendo
os estímulos, vindos deste exterior, através dos órgãos sensoriais, fazendo com
que a pessoa reaja de forma mais ou menos adaptada.
O
sistema Consciente é o sistema perceptivo e está intimamente relacionado com a
motilidade e a afetividade. O Consciente apresenta uma estreita relação com a
realidade, e por isto, opera no chamado princípio do teste de realidade, que é
resultante do exame que o EU realiza para perceber se a fonte da experiência
psíquica é interna ou externa. “... um órgão sensorial que se localiza no
limite entre os mundos interno e externo e serve para a percepção tanto de
processos internos (sonhos, fantasias e devaneios) como externos” (Nunberg, 1989, p. 48).
Segundo a
Teoria Estrutural, elaborada por Freud (1924), existe a distinção de três
sistemas ou instâncias da personalidade humana: o ISSO, o EU e o SUPEREU. O Isso
é o sistema original da personalidade. É a fonte e o reservatório de toda
energia psíquica. É a energia que impulsiona o sujeito em busca de tudo. Ele
procura a resposta direta e imediata ante um estímulo pulsional, sem distinguir
entrea realidade e a fantasia. Também não atende ao princípio da realidade, mas
sim ao do prazer, não possuindo percepção do tempo ou das razões causais ou
lógicas.
Do Isso se
originam dois tipos de energia: uma agressiva que vem do instinto de morte
inerente ao sujeito, e a outra sexual, chamada de Libido, originada do Eros.
Ele é totalmente inconsciente.
O Eu é a parte
executiva da personalidade. Possui diferenciação do Isso pela influência do
mundo exterior sobre ele. Sua função é a de preservar e adquirir recursos e,
por meio destes, se tornar habilitado a administrar as situações decorrentes
das demandas do Isso, as reivindicações do Supereu, bem como as reivindicações
provindas do mundo exterior.
O modo
característico de funcionamento do Eu é através do processo secundário de
pensamento, também chamado Princípio de Realidade, que impera na vida de vigília
normal das pessoas. É um modo de buscar a satisfação dos impulsos do Isso, mas
de uma maneira indireta e avaliando as condições determinadas pela realidade
externa presente. Este tipo de pensamento é verbal e se reveste da lógica e
objetividade, que são as características do sujeito normal, ajustado e equilibrado.
A primeira
posição alcançada pelo bebê no seu desenvolvimento é chamada de
esquizoparanóide. Os mecanismos de defesa usados para fazer frente à ansiedade
de não fazer mais parte de um todo (mãe-bebê) fornecem o nome a esta posição. O
termo “esquizo” se origina do grego significando cisão, corte, divisão. A
palavra esquizofrenia significa mente divida. Já o termo paranóide, também do
grego, significa um distúrbio de percepção e do conhecimento do sujeito.
A necessidade
do bebê de preservar a experiência prazerosa e de rechaçar a dolorosa leva a
uma dissociação (clivagem), de modo que, segundo Melaine Klein, toda a
qualidade da formação do psiquismo humano gira em torno do seio bom
(estruturante) e do seio mau (desestruturante) (Zimerman, 2001).
A segunda posição
que é alcançada pelo bebê por volta dos seis meses de idade é chamada
depressiva. Esta posição contraria a anterior se caracteriza pela capacidade de
integração das partes do sujeito e dos objetos que estão dividas e dispersa
devido às projeções. Segundo Zimerman (2001), o atingir plenamente a posição
depressiva permite o desenvolvimento no ser humano de: aceitar perdas, algo que
é necessário para a formação de símbolos; reconhecer e assumir
responsabilidades e de eventuais culpas pelos ataques (mentais) feitos ou que
imagina ter feito; concessão de autonomia aos objetos e capacidade de suportar
uma separação parcial deles; fazer reparações verdadeiras; capacidade de sentir
gratidão pelos que ao ajudaram, ser capaz de integrar aspectos dissociados e ambivalentes;
formar símbolos e adquirir a capacidade de pensar.
4 Conclusão
Todos esperam
serem felizes no casamento. Quando apaixonados todos os olhos estão voltados
para a pessoa amada. Não é à toa que todos os contos infantis terminam com o
encontro daquela que tanto sofreu com o príncipe encantado e finalizam com
"e foram felizes para sempre". Como se houvesse um grande desejo de
parar o tempo. Por parte das mulheres, a vontade de ser protegida e ter filhos
é um exercício desde menina. Quando cresce aspira também a ser protegida pelo
marido.
Para os moços,
a expectativa é de ser acolhido num ninho de compreensão e amor. Ela acredita
poder realizar todos os sonhos levantados nas brincadeiras de casinha, e isto é
normalmente reforçado pelos homens que acabam sendo formados para dar conta de
tudo, e quando isso não ocorre,
se vêem desprestigiados. Com isto ocorre aqui um grande choque entre
sonhos e realidade. Os ideais muitas vezes acabam atrapalhando o entendimento
do casal.
Ter que lidar
com o fato de serem dois sujeitos diferentes sempre é problemático. Quando se
está apaixonado, o outro é o bem total, e o Eu nem é merecedor de tanta
perfeição. Esse sentimento vem de quando o bebê está com fome e esperneia pelos
cuidados e vem a mãe ou sua substituta atendê-lo aliviando a fome e o
desespero; isto deixa uma sensação de grande prazer e gratidão para com a mãe,
até a próxima mamada, quando tudo vai se repetir.
É importante
reconhecer as diferenças entre os componentes do casal seja homo ou heteroafetivo.
A diversidade é trabalhosa, mas é muito mais estimulante. O sujeito feminino
que tem suas experiências profissionais, seus relacionamentos de amizade, suas
idéias, tem muito mais a contribuir no casamento do que aquela que só tem olhos
para o parceiro. Quem dá muito, cobra muito. Um sujeito masculino que vibra com
as próprias coisas e um feminino que tem varias fontes de satisfação têm mais
condições de tornar seu casamento criativo. Porque diferentes são todos.Todos
sedentos de amor. Numa situação na qual o amor é tão fundamental, a vida fica
insatisfatória e pobre. Insatisfatória porque a bem aventurança da paixão é
passageira.
Estados de amor
no adulto são necessariamente alternados com insatisfação. A única situação de
absoluta dependência do outro que faz bem é aquela do bebê com sua mãe. Não é
bom para aquele que depende, nem para aquele que é o objeto da eleição. Se um dos parceiros tem
como único projeto estar colado ao outro, está perdido, porque, mais cedo ou
mais tarde vai se dar conta de que são dois e não um só. Se forem iguais é
porque um está tendo que abrir mão do que pensa, da própria personalidade. No
fundo fazem isso para evitar atritos, acreditam que as discussões desgastam a
relação. Isto é péssimo para qualquer relacionamento. Estes estão apoiados em doutrinas: dá para falar,
não dá para falar.
Referências
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Psicopatologia da Vida Sexual. Campinas – SP: Papirus.
Fenichel, Otto.
(1997). Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo: Editora Atheneu.
Freud, Sigmund. (1925)
Algumas Conseqüências Psíquicas da Distinção Entre os Sexos. Rio de Janeiro.
Freud, Sigmund. (1987).
Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editores.
Freud,
Sigmund. (1997). Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade. Rio de Janeiro:
Imago Editores.
Freud,
Sigmund. (1924). A Dissolução do Complexo de Édipo Rio de
Janeiro: Imago Editores.
Klein, Melaine. (1982).
Algumas conclusões teóricas sobre a vida emocional dos bebes - in Os progressos da psicanálise (3ª
ed.). Rio de Janeiro: LTC.
Laplanche, J.,
& Pontalis, J. (1998). Vocabulário de Psicanálise, São Paulo: Livraria Martins
Fontes Editora Ltda.
Nunberg, Herman.(1989).
Princípios da Psicanálise. São Paulo: Editora Atheneu.
Segal, Hanna.
(1975). Introdução à obra de Melanie Klein
- imago editora Ltda. Rio de Janeiro.
Zimerman,
David E. (2001). Vocabulário contemporâneo de Psicanálise Porto
Alegre: artes medicas.